sexta-feira, 28 de julho de 2017

CORPORATIVISMO PORTUGUÊS DESVINCULADO E ALÉRGICO A CONSENSOS


Entre Coletivismo do Inconsciente nórdico e Individualismo do Inconsciente latino


Por António Justo

O apóstolo Paulo na Carta ao Coríntios 12, 12-31 oferece a visão mais antiga de corporativismo e concebe-o como uma forma orgânica de política e de sociedade como um corpo (metáfora do corpo místico de Cristo); no período da industrialização a Rerum Novarum (Papa Leão XIII1890) reconhece os direitos laborais corporativistas que servem de base às democracias cristãs e à organização de sindicatos. 

Esta concepção de corporativismo contrasta com um corporativismo encerrado nos interesses de agremiações estanques e contra o Estado.

O regime corporativista de Salazar era um modelo de “corporativismo económico” paternalista e anticapitalista (1), ligado à terra, que deu lugar a um modelo de “corporativismo ideologizado” mais sob a égide partidária em que a solidariedade social se opera já não tanto em termos naturais orgânicos de associações produtivas, mas de maneira abstrata em termos ideológicos, agora em conluio com o capital. 

O povo, já não vinculado à terra e aos seus grémios corre o perigo de passar a viver em balões de ideologias que lhe reservam sobretudo o papel de consumidor, prosélito ou mero votante.  Se antes dominava o paternalismo de Estado agora domina o Estado partidário (2).

Entre solidariedade social económica e solidariedade social ideológica


O corporativismo português é centralista, de caracter autoritário e ideológico; nele os modelos de acção e decisão das corporações mais que orientados para o consenso de grupos, para o cidadão e para o Estado encerra-se em grupos de interesses.  

O resultado do rendimento nacional e o estilo de discurso politiqueiro revelam que o corporativismo do Estado Novo foi continuado na sua mentalidade porque enquanto este procurava impedir a acção cívica individual substituindo-a pelo interesse dos grémios, o 25 de Abril cria novas solidariedades, já não tanto assentes na economia e na cultura, mas na solidariedade ideológica, também ela não fomentadora da acção cívica individual, porque baseada nos interesses de corporações partidárias. O 25 de Abril de coloração comunista aliado ao socialismo radical ad hoc nunca estive interessado em aceitar colaboração entre classes: o marxismo vive da luta de classes apostando, por isso, no conflito, não estando interessado numa política de integração das classes na sociedade; o capitalismo liberal de mistura também não está interessado numa política concreta de integração das camadas sociais porque parte do princípio que o mercado regula tudo por si mesmo….  O novo regime, na tendência, aposta numa utopia socialista transportando para os partidos a ideia fascista, de que “as diferentes vontades políticas das classes estariam representadas nas associações”. Os interesses do corporativismo afirmam-se à margem do cidadão em geral.

À ideologia da luta socialista marxista de classes vem mais tarde juntar-se o Individualismo liberal anárquico. Em Portugal, a representação de interesses, embora plural revela-se impeditiva da competição e como garante de um certo jacobinismo ideológico herdado da revolução liberal e cultivado pela rede da maçonaria infiltrada em diferentes organismos da política e do Estado. Confunde-se mercado económico com mercado ideológico, como se nota em certos sectores da universidades e em grande parte no MEC em espaços políticos controladas pelo espírito de um corporativismo ideologizado. 

A disputa entre associações empregado-empregador não é querida e por isso não parte da realidade no terreno nem do país real.  Em vez de termos uma democracia de caracter inclusiva concordante temos um sistema de divergências. Os extremos da ideologia capitalista e socialista juntam-se em Portugal impedindo-o 

Uma luta de identidades baseadas nos solos e subsolos de capelinhas mantem-se coesa sem ter em conta a identidade e a coesão de um Estado que para ser coeso dependeria da solidariedade de povo e das instituições, mesmo daquelas que se afirmam pelo contra, mas que deveriam estar conscientes da identidade tecto que é geograficamente o Estado.

No Jogo Yin Yang entre Família e Estado e Estado e Família


Neste contexto acho digna de nota a sociedade alemã na maneira como consegue integrar os necessários conflitos entre organizações sociais e económicas, (patronatos e sindicatos) entre indivíduo e sociedade, numa dinâmica inclusiva em relação ao Estado, também ele reconhecido, por todos, como factor de identidade. Aqui o Estado integra o conceito de família, enquanto nas sociedades latinas a solidariedade familiar é mais de espírito privado e como tal mais individualista. 

É interessante ver-se como os estados de cunho mais protestante projectam o espírito familiar no Estado enquanto os Estados latinos atomizam mais esse espírito e esvaem-se no individualismo; quem vê de fora, certamente, constata uma certa contradição na dinâmica polar entre os países de cariz católicos mais centrados na comunidade (no nós) e os países de cariz protestante mais concentrados no eu; a um colectivismo do inconsciente nórdico parece opor-se o individualismo do inconsciente latino (existencialmente mais comunitário). Cada sociedade parece reagir externamente de maneira oposta a uma filosofia de substrato, procurando a vivência a nível imanente não se interessando por uma análise comparativa para lá do inconsciente colectivo. É interessante observar a vivência polar ad intra e ad extra das forças comunitárias e individualistas, dentro das sociedades e na relação destas com as diferentes culturas, num jogo de relações tipo yin e yang. 

Estado Novo como Corporação económica paternalista e Regime de Abril como Corporação mais ideológica

Assim, tecnológica e economicamente, os países do Sul estão condicionados à dependência dos nórdicos. Uma política sem interesse numa economia nacional própria, consequentemente, não fomenta a formação de consensos entre as corporações e entre as políticas… As relações entre empresários e trabalhadores, mais que fundadas na realidade económica e nos interesses económicos nacionais, assenta nos interesses individualizantes de forças partidárias de ideologias extremamente concorrentes (falta-lhe a experiência de uma economia social) que deste modo beneficiam uma ideologia de mercado.

Grande parte do discurso nos jornais portugueses de referência não se preocupa em fazer uma análise tipo sinopse relativamente ao regime de Salazar e ao regime de Abril, contentando-se em seguir os ditados da política assumida ad hoc e só na demonização do Estado Novo. O regime corporativista de Salazar, como modelo corporativista do Estado, foi sub-reptícia assumido e modificado no sentido do 25 de Abril, com o particular de se ter tornado ainda mais ideologizado pelo facto de o papel do Estado ser em grande parte assumido pelos partidos com os seus tentáculos, fundações, PPPs, etc., no lugar das corporações e associações produtivas…  Das corporações económicas do Estado Novo com o Regime de Abril passa-se para corporações ideológicas. A solidariedade social é organizada pela política em conluio com o capital da macroeconomia.

As corporações sindicais mais que especialistas em economia e interessadas numa interacção corporativa e na construção de um Estado de economia social preferem continuar a ter o patrão como papão (esquecem que trabalhadores empenhados fortalecem o empresário e este enriquece os trabalhadores – exemplo da VW e da economia alemã baseada no fomento de pequenas e médias empresas – as grandes empresas são importantes na concorrência a nível internacional). Um modelo de Estado arbitrariamente intervencionista, atua, muitas vezes, à margem da economia real da sociedade e dos interesses do bem-comum e, devido à prevalência ideológica (neocapitalismo e socialismo) fica condenado a ter de correr sempre atrás das macroeconomias.… 

Enfatiza o moralismo político com mediador de redes de interesses num mercado sem capacidade competitiva, com demasiada jerarquia funcional, e burocracia controladora dentro de um Estado com o monopólio de representação; o Estado não tem pejo em sobrecarregar as pequenas e médias empresas com os óbolos que têm de pagar para manter a burocracia formadora e fiscal. A nível de política de educação para melhor controlar a ideologia nacional considera as escolas particulares concorrentes e não elementos complementares enriquecedores do sistema, como se verifica em Estados ocidentais não socialistas.

Contraditoriamente segue-se o ditado da economia liberal e por outro um burocratismo parasita que além de reduzirem a produção impedem o desenvolvimento das pequenas e médias empresas. A Alemanha pode ser o exemplo de um Estado, com um orçamento com superavit, precisamente porque tem organizações fortes a nível de empresariado e de sindicatos, em que os interesses de mediação mais que ideológicos assentam em dados reais (o mesmo se diga da Suiça com oito milhões de habitantes e que alimenta os nacionais e muitos imigrantes que a enriquecem atrai imigrantes). Deste modo têm rendimento para manter um certo grau de justiça social, sem que o creme fruto da produção nacional não se limite só a alimentar as elites.

Independente deste texto recomendo a leitura de “O Poder local em Tempo de Globalização” (Fernando Taveira da Fonseca) que é um documento independente de ideologias e pode contribuir para  uma melhor compreensão e moderação da actual discussão político-social em Portugal.

© António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e Pedagogo (Português e História)
(1)    “A organização corporativa, com toda a sorte de organismos que dela fizeram parte, foi a mais saliente e inovadora criação institucional dos estados corporativos no sentido de domesticar o capitalismo, compartimentando os interesses e impondo a colaboração entre «capital» e «trabalho» num plano nacional”. O corporativismo do Estado Novo sofre da mesma doença que sofre o corporativismo ideológico que se lhe seguiu: é um corporativismo ad hoc. O corporativismo num Estado pequeno pode perpetuar a velha mentalidade vazada sucessivamente em vasos novos. Tem-se por um lado a afirmação de interesses monolíticos e uma sociedade em geral ao sabor do vento.
(2)     Um aparte: A sociedade parece cada vez viver mais de uma dicotomia desequilibrada entre natura e cultua. Se no passado dominava a natureza atualmente domina a cultura (o desequilíbrio das duas forças vivenciais fomenta a crise e a pressa do declínio do Ocidente – numa luta da cidade contra o campo e na abstracção da vida social). Assim hoje vivemos numa sociedade chamada de mercado e da concorrência de mercados, mas na realidade não encontramos mercados reais localizados, mas lojas de mercadores anónimos presentes em todas as cidades.  Concretamente, também a economia e o mercado se transformaram numa ideologia que se impõe e determina um modo de vida cada vez mais artificial.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

TRUMP INTERROMPEU O APOIO AOS REBELDES NA SÍRIA

Finalmente uma medida razoável a nível internacional.   
                                                                        
Com a iniciativa de Trump, os USA declararam fracassado o seu apoio aos rebeldes na Síria iniciado por Obama. 

Com esta decisão Trump acabou com “os enormes pagamentos perigosos e o desperdício com os rebeldes” sírios que lutam contra Assad. 

A política do Ocidente, contra o regime Baschar al-Assad da Síria, enquadra-se na continuação da política irresponsável e falhada contra o antigo regime de Saddam Hussein no Iraque.

António da Cunha Duarte Justo

terça-feira, 25 de julho de 2017

A EU (UNIÃO EUROPEIA) APOIA A ENTRADA DA TURQUIA NA EU COM 4,45 MIL MILHÕES DE EUROS


Atendendo ao fascismo crescente na Turquia, o Parlamento Europeu exigiu o stopp das conversações preparativas para a entrada da Turquia na EU. Apesar disso a EU tem um orçamento de 4,45 mil milhões de euros para a Turquia; esta quantia é concedida até 2020 para a Turquia se ir preparando para entrar na EU; desta verba já foram usados 167,3 milhões de euros, como refere o HNA de 25.07.

Dois terços do dinheiro estão previstos para projectos de fomento da competitividade, conversão do fornecimento de energia, e para o sector de transportes.

O stopp da corrente dos dinheiros só seria possível com uma decisão conjunta dos ministros dos estrangeiros da EU, dado estas verbas não estarem condicionadas à preservação da democracia nem ao respeito por princípios constitucionais.

O único verdadeiro instrumento de pressão que a EU tem na mão para levar o governo de Ancara a abrandar o seu fomento do fundamentalismo religioso e a desmontagem do Estado moderno iniciado pelo seu fundador Mustafa Kemal Atatürk seria a cessação da união aduaneira com a Turquia. O único meio de pressão é o económico, este é, porém, uma espada de dois bicos, atendendo à dependência do desenvolvimento social da economia. 

Em 2016 a Turquia exportou para a Alemanha mercadoria no valor de 15,4 mil milhões de euros e a Alemanha exportou para a Turquia 21,9 mil milhões de euros.

Paralelamanete aos dinheiros disponibilizados pela EU para a integração da Turquia na Europa, a EU disponibilizou três mil milhões de Euros para o estrangulamento da corrente de refugiados da Turquia para a Europa.

De momento o regime de Erdogan persegue os jornalistas considerando “ajudante do terrorismo” quem for crítico ao seu regime. Processou 13 jornalistas do jornal da oposição “Cumhuriyet”. A grande maioria dos jornais foram levados à linha do goerno.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo http://antonio-justo.eu/?p=4413

domingo, 23 de julho de 2017

CASAMENTO GAY SOB O VISOR DA CIÊNCIA E DA IDEOLOGIA



Biólogo aponta para o Possível Problema de Padrastos

António Justo
Casamento para todos já não é casamento, é casamento para ninguém! A gota só o é enquanto não se transforma em nuvem ou enquanto não cai no mar!... No momento em que tudo é um, só a autorrestrição imposta a si mesmo pode reconhecer o outro.

Um contributo para a discussão


Na Alemanha o Parlamento aprovou o “casamento para todos” independentemente de os pares serem heterossexuais ou homossexuais. Em reacção ao facto, o Prof. Dr. Ulrich Kutschera  da universidade de Kassel, tematizou três aspectos: “O contexto do novo casamento universal com a Ideologia do Género, a base biológica do ser humano e a pedofilia”. 

Kutschera receia, no sim do Parlamento ao “casamento para todos “, pedofilia subvencionada pelo Estado e grave abuso infantil no futuro”.

Segundo ele, no casamento gay fortalece-se “o problema dos padrastos”, que constituiria um risco acrescido para as crianças: um padrasto que vive em casa com uma filha adoptiva, sem ligações genéticas, poderá ter uma maior possibilidade de abuso, embora haja muitos padrastos bons. 

Para o biólogo, casamentos gay com filhos adoptivos não possuem a herança genética de imunização contra o incesto. Em casamentos heterossexuais, pai e mãe são em 50% parentes genéticos de seus filhos, e a consanguinidade produz um efeito inibidor do incesto.  

A probabilidade de inclinação para pedofilia segundo investigações citadas pelo cientista é 10 vezes maior em casos de padrastos e de madrastas (estudo de Regnerus M 2012); refere também que resultados de investigações mostram que filhos sem pais biológicos sofrem mais de depressões e se tornam mais frequentemente criminosos e dependentes da assistência social.

Argumenta biologicamente contra o direito de adopção de crianças por Gays “dizendo que “crianças são moldadas inteiramente pela voz da mãe biológica durante o desenvolvimento pré-natal”. Considera “inaceitável uma troca voluntária desta importante pessoa de referência por pessoas estranhas.” Defende que na biologia, desde 1735, “Sexo” corresponde à reprodução bisssexual (fertilização) enquanto para a ideologia Gender, sexo, desde 1876, significa o desenvolvimento de animais sexualmente maduros”; insurge-se contra a erotização infantil precoce (que a ideologia do Género implementa nos programas de todas as escolas), uma vez que a pessoa só é capaz de actos sexuais depois da puberdade

A visão do investigador contempla a ideia que homens e mulheres nascidos homossexuais não devem ser discriminados. Efectivamente, o problema vem do facto de o casamento Gay implicar o direito a adopção e de o matrimónio implicar heterossexualidade e a possibilidade de procriação.

Indagação ministerial: autoridade institucional contra autoridade individual


O Ministro da Ciência do Hesse (Boris Rhein) insurgiu-se contra Kutscera que defende a teoria de que o “casamento para todos” aumenta o perigo de abuso de crianças”. Boris Rhein diz que estas declarações do Professor são “tão absurdas” que a reitoria da Universidade deve examinar as declarações e verificar “se o professor feriu os seus deveres de funcionário, pelo facto de ter falado prejurativa e depreciativamente contra os gays”. 

A universidade retorquiu ao ministro com o argumento da liberdade académica e da liberdade de opinião do professor. 

O ministro solicitou então à Universidade que examinasse se através das convicções do professor com as suas declarações terá prejudicado o local da ciência da universidade e do Hesse. 

A universidade respondeu não poder fazê-lo porque questões legais pessoais são estritamente confidenciais e que a universidade está consciente dos direitos e deveres dos seus funcionários.

A reitoria da universidade distancia-se de Kutschera e parte do parecer que a maioria pensa diferente, mas que o princípio da liberdade da ciência e de opinião não podem ser postos em questão pela Universidade. Nas respostas a universidade mostra-se consciente de que a ciência está dependente da atribuição de fundos económicos do Estado, mas também da criatividade e de um mínimo de independência dos seus professores…. 

A Universidade de Kassel mostrou coragem ao não aceitar, no caso, subjugar-se ao sistema, ao neutralizar as intenções do Ministro no seu intuito de perseguir um cientista que parece não se submeter ao pensamento politicamente oportuno (o mesmo espírito que levou à inquisição na Idade Média manifesta-se hoje na tentativa de funcionar o saber no sentido dos interesses da instituição contra o indivíduo). 

Na tradição do Renascimento, a liberdade de opinião também deve cobrir opiniões que não correspondam ao pensar do politicamente correcto ou das massas. Em casos como este, a ideologia do género, e os partidos não estão interessados em discussões científicas; importa-lhes uma sociedade alheia e alheada, sem discussão objectiva, onde mais facilmente se consegue capital para os respectivos sequazes; deste modo destrói-se, quer a nível de maiorias quer a nível de minorias, o princípio nobre distinguidor da cultura ocidental de todas as outras: a relação de tensão entre autoridade institucional e autoridade individual. 

O princípio do uso de sanções contra apóstatas ou renegados através da instituição continua hoje presente nas nossas instituições democráticas com a vantagem de que, no nosso tempo, a própria impreceptível inquisição é melhor que a do outro e que a do passado. Instituições do Estado que subvencionam, com dinheiros públicos, a ideologia gender nas universidades também têm de suportar a opinião de cientistas que chegam a outras conclusões mesmo que estas não sejam oportunas a interesses estabelecidos. A sociedade é muito diferenciada, com diferentes necessidades e gostos, não podendo, por isso, ser alimentada por uma só caçarola.

As posições críticas do biólogo Kutschera em relação ao casamento gay com direito a adopção, incomodaram muita gente. Uma entrevista sua na “kath.net” em que de forma pregnante designa pares homossexuais como “estéreis duos de sexo sem potencial reprodutivo” afirmando, ao mesmo tempo, não querer “ofender ninguém”, mas apenas trazer para a discussão uma “perspectiva da ciência biológica”. Segundo o resultado do seu trabalho científico as “crianças precisam dos seus pais biológicos para se desenvolverem de forma optimizada” (HNA 20.7.17) e “em primeiro lugar deve estar o bem-estar do protegido. O egoísmo dos pais não deve dominar”.
O grau da tolerância de opiniões diferentes ainda é muito baixo: em vez de se reagir a argumentos com argumentos reage-se emocionalmente contra pessoas, sem se discutir os prós e os contras dos seus actos. Por vezes confunde-se o tom da voz com o que se diz. 

No exercício de uma cidadania cada vez mais emotiva e apostrófica, em vez de meros cães de guarda de ideologias contra pessoas ou contra grupos, precisamos mais de pessoas e grupos com um discurso público de argumento contra argumento ou de argumentação inclusiva, como era tradição desde há muitos séculos com o método do discurso da controvérsia que incluía o advogado do diabo. Neste sentido na praça pública seria necessária a incrementação de simpósios entre cientistas de posições contrárias alargados ao público em geral.

Conclusão


São naturalmente legítimas as aspirações de pares homossexuais querem ver aceites na sociedade e nas leis as suas uniões afectivas e sexuais. Questionável é a sua exigência ao direito a terem filhos adoptivos. Tal como uma política ocidental contra a família tradicional e de fomento do aborto leva à necessidade de maior imigração de povos biologicamente mais férteis para os menos férteis, também as leis de adopção poderá vir a criar problemas de identidade a filhos adoptivos em casais homossexuais. Daí a necessidade de uma disputa séria sem desprezar ninguém; doutro modo conduzem-se as leis vigentes ad absurdum.

Todo o contributo para o saber corre naturalmente o risco de ser usado e abusado no sentido de fortalecer as trincheiras dos monopólios da opinião que tendem a generalizar os factos no sentido de se glorificarem ou de prejudicarem minorias. A discussão constitui também ela uma afronta a pessoas que querem viver despreocupadamente na zona confortável da fachada da sociedade, e, como diz um ditado alemão, para quem basta “paz, alegria e panquecas”.

A Europa mostra também aqui o busílis em que vive: um modelo que surgiu da luta da autoridade do indivíduo (renascimento) contra a autoridade da instituição; isto aconteceu no Ocidente devido à legitimação divina do ser humano como imagem de Deus e como tal imbuído de personalidade com autoridade perante as autoridades institucionais; portanto, já não súbdito, mas sujeito. 

Com a morte de Deus morre o sujeito em nós e com ele morre a personalidade, dando lugar à chegada dos deuses de um domínio de poderes anónimos a viver de ideologias ad hoc que apregoam a força do destino hoje com o nome de força da conjuntura. Neste sentido tanto a instituição como o indivíduo nas suas legítimas reivindicações não devem esquecer o velho princípio de que só se ganha dignidade na medida em que se dá dignidade aos outros. 

© António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e Pedagogo

sexta-feira, 21 de julho de 2017

FUNDO DE APOIO ÀS VÍTIMAS DOS TUMULTOS DE HAMBURGO



O Ministério das Finanças declarou que o Estado alemão e a cidade de Hamburgo disponibilizam 40 milhões de euros para compensação das vítimas da violência em torno da G20 em Hamburgo. 

O processamento da compensação é feito através de um fundo de apoio para onde vai o dinheiro do Estado. 

O Fundo de Indemnizacao destina-se a lesados em bens não cobertos por seguros. Já há 230 pedidos de indemnização. 

A Alemanha tem leis de indemnização que pode consultar aqui. Formulários de inscrição para a indemnização das vítimas encontram-se neste link em alemão.

 Hamburgo é a cidade mais portuguesa da Alemanha, pela sua história, instituições, associações, gastronomia e pelos 10.000 portugueses que nela vivem.

António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo

sexta-feira, 14 de julho de 2017

A LIÇÃO DA G20 EM HAMBURGO - PRÉ-ANÚNCIO DA RADICALIZAÇÃO DE TODA A SOCIEDADE?



Poder de cima e Poder de baixo no Ajuntamento


António Justo
A Cimeira G20 congregou em Hamburgo os chefes de Estado dos 20 países industriais mais importantes e de países emergentes para tratarem dos temas clima, comércio, migração, luta contra o terrorismo; teve 10.000 participantes, dos quais cerca de 5.000 eram jornalistas. O custo da cimeira G20 foi de 130 milhões de euros .

Poder contra poder


Hamburgo juntou 70.000 manifestantes , vindos de toda a Alemanha e do estrangeiro, para protestar contra a exploração do Homem e da natureza e contra os excessos do capitalismo financeiro. 

Em acção estiveram 19 helicópteros, 3.000 veículos, 20.000 polícias e não conseguiram proteger a cidade. Resultado: 476 polícias feridos, 144 militantes aprisionados e 51 detidos na prisão (entretanto já 13 em liberdade), carros incendiados, lojas devastadas e roubadas, corpos explosivos e pedras atiradas dos telhados, habitantes desorientados. Os manifestantes do G20 do campo do Bloco Negro e da Esquerda Autónoma castigaram os habitantes da cidade e estragaram a festa.

Uma das táticas dos autónomos foi o disfarce,  organizar-se em pequenos grupos e mudar de roupa para não serem identificados. O excesso de brutalidade de muitos demonstrantes (pelo menos, 1.500 radicais violentos) levou o ministro do interior a dizer:” Não eram manifestantes. Eram anarquistas criminosos”. Apesar de tudo, o Prefeito da cidade já pediu desculpa à população por a política não ter estado à altura de poder impedir tanta violência da rua. 

O ministério das finanças avançou que as vítimas dos extremistas serão indemnizadas. A polícia organizou centros de reclamação para os cidadãos; A polícia criou uma comissão composta por 110 investigadores de Hamburgo e 60 de fora para avaliarem milhares de vídeos e fotos.  Muitos danos serão suportados pelas companhias de seguro em consequência de vandalismo (possuidores de autos só com “seguro de responsabilidade civil” (Haftpflichtversicherung) não teriam direito a indemnização porque este seguro só cobre danos causados pelo próprio; por outro lado em casos de força maior os seguros costumam cobrir os estragos.

Extremistas de esquerda e de direita na Alemanha


A G20 juntou em Hamburgo, os poderosos do mundo e a cena da esquerda militante: uma sociedade atrevida e uma agremiação de atrevidos.  

Segundo afirma a Polícia de Proteção Constitucional, na Alemanha há 28.500 extremistas de esquerda, e destes 8.500 são dados à violência, especialmente os Autónomos. A mesma repartição calcula em 22.600 extremistas da direita e em 12.100 o número de extremistas com semelhante potencial de violência.

A revista de tendência esquerda DER SPIEGEL, n° 27/1.7. 2017 já previa a violência e fornecia ao mesmo tempo o logo dos extremistas de Hamburgo apresentando na primeira página, em letras garrafais, o seguinte: “Globalização fora de controle!  ATREVEI-VOS!   Pensar radical, agir com decisão - só assim o mundo pode ser salvo”. Embora a humanidade, a política, a ciência e a economia precisem de repensar e de mudar de atitude para resolver os problemas da humanidade nada justifica um título que pode ser considerado um apelo indirecto ao radicalismo à maneira do islamismo.  

Simpatia clandestina no que toca ao radicalismo de esquerda

Na opinião pública é cultivada uma certa ingenuidade perante o extremismo de esquerda e por isso a estratégia de defesa não esteve à altura da cena da esquerda que se sentia em casa. 

A violência de esquerda tem sido banalizada. O Estado e a sociedade terão de estar tão atentos à violência dos radicais de esquerda como à dos radicais de direita. Na sociedade há uma “simpatia clandestina”, supõe o político Wolfgang Bosbach, e por isso os Estados europeus não têm os mesmos instrumentos e táticas contra as maquinações da esquerda radical como têm na luta contra as maquinações da extrema direita.

 “Flora Vermelha” o epicentro do extremismo de esquerda

Hamburgo tem no seu centro há 28 anos a Rote Flora - um centro cultural dos autónomos que funciona como catedral da oposição da esquerda radical contra o poder do Estado; o mais curioso é que desde 2014 a Rote Flora tem o estatuto de fundação da cidade.
O advogado porta-voz de Rote Flora (Flora Vermelha) disse que não puderam ter mão nos tumultuosos porque os “os militantes estrangeiros” não seguiriam ordens (uma desculpa barata porque é próprio dos autónomos não aceitarem jerarquias!). " Nós, como autónomos e eu, como porta-voz dos autónomos temos certa simpatia por tais acções, mas por favor, não no nosso próprio bairro onde vivemos. "

Conclusão

A G20 dos chefes de Estado em Hamburgo teve sucesso em relação à abertura dos mercados, a mais dinheiro para África, ao encontro bilateral de Wladimir Putin e Donald Trump com o acordo de cessar-fogo no sudoeste da Síria e às alterações climáticas (os USA não aprovaram este ponto).

Há quem considere eventos como os de Hamburgo desnecessários, quer para os chefes de Estado quer para os demonstrantes. Os encontros de chefes de Estado poderiam tornar-se mais eficientes se se reunissem em pequenos grupos do que num grupo de mamutes. Em tempo de internet e de videoconferências e com o movimento de protesto já expresso na internet, talvez já esteja atrasada esta maneira de se demonstrar o poder de cima e o poder de baixo.

Em Hamburgo revelou-se um fenómeno explosivo que revela o estado doentio da política e da sociedade; o Estado deixa de ter o monopólio do poder: ao extremismo de fora vem juntar-se o extremismo de dentro. A Alemanha demonstrou que não consegue dominar o extremismo de esquerda como não consegue dominar o extremismo muçulmano: uma “cortina de fumo” impede a visão. 

Grande parte da população pensa baixinho que já vai sendo tempo de os Estados deixarem de educar para a esquerda, descuidando o centro, de que vive. 

Em Hamburgo a extrema esquerda mostrou que precisa das mesmas medidas do Estado como as que existem contra a extrema direita; doutro modo proporcione-se-lhe um estágio na Coreia do Norte. No seu fulgor parecem confundir justiça social com igualdade social. Para não se brincar com a inveja haverá que ter em conta que as pessoas são desiguais face aos seus talentos, habilidades, competências e motivação. Importante é impedir as fontes de desigualdades estruturais e fomentar possibilidades aos mais débeis; se o Estado não garantir isto dar-se-á lugar a situações de guerrilha nas cidades.

Em Hamburgo tudo pôde e pode; podem os governantes da G 20, podem os radicais da extrema esquerda, pode a polícia e, no meio de tanto poder, para o confirmar, só não podem os habitantes que querem paz. A violência passou nua; uma vergonha para a Alemanha e um aviso para outros países. Apesar das razões que haja para demonstrar contra cimeiras (violência sub-reptícia presente nas estruturas económicas e políticas) nada justifica a violência brutal praticada nas ruas de Hamburgo.
© António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo  http://antonio-justo.eu/?p=4402