segunda-feira, 28 de setembro de 2009

PARTIDO PIRATA ALEMÃO


Zé do Telhado a Caminho?
António Justo

Na Alemanha o Partido Pirata alcançou 2,0% dos votos. Permanece assim uma força extra-parlamentar. O partido dos Verde também começou por ser, nos anos 80, um partido insignificante e nas eleições de ontem (27.09.09) conseguiu, na Alemanha, 10,6% com 67 deputados. Os partidos maioritários podem encontrar neles um alfobre de ideias de modernização.

O Partido Pirata expressa o sentir de grande parte dos jovens de hoje. Nasceram da revolução digital. Sonham por um mundo de ideias livres, uma nova economia e pelo respeito da esfera privada que deve ser protegida do Estado e das firmas interessados em controlar os interesses de cidadãos e consumidores.

São contra patentes em alguns sectores, um deles é o dos medicamentos. Como expressão da esfera digital encontram-se no Facebook e noutros fóruns. A sua sede é, de partida, a Net. Pretendem a mudança da sociedade e da economia no sentido duma sociedade igual. Apostam na libertação dos dados e na sua disponibilização. Querem uma economia sem monopólios artificiais e menos poderes centralizados. Situam-se entre a utopia e a defesa do indivíduo. É um partido jovem e masculino. Não publicam a percentagem de mulheres por razões de protecção de dados.

Na Alemanha têm mais de 7. 000 Filiados. São técnicos que querem ver como as coisas funcionam e como funciona o mundo para poderem colocar a sua energia não só ao serviço de multinacionais e instituições mas especialmente ao público. São o que sentem. Como a Internet são individualistas, de sexo neutro que usam a tecnologia como instrumento de emancipação.
O país precisa de novos heróis e da coexistência de várias plataformas. Torna-se urgente o controlo dos tubarões do poder e da economia. Sem utopias o mundo tornar-se-ia cada vez mais gelado.

A revolução digital apresenta uma oportunidade para toda a humanidade mudar de vida no sentido duma humanização da cultura e de Estados acessíveis a todos. Os Partidos Piratas são um bocado de argamassa com que se pode construir um bocado de futuro mais bem caldeado. Talvez possam tornar o cimento da nossa sociedade menos duro, mais maleável. Um bocadinho de todos ajuda a sociedade a ser de todos.

A inteligência digital tem perguntas que exigem uma resposta nova, são uma força positiva.
O seu desejo manifesto internacionalmente requer uma nova programação do mundo. O cérebro deixa de ser equacionado em centrais do poder para se universalizar.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

VOTAR OU NÃO VOTAR – PRÓS E CONTRAS

Da Democracia Partidária para a Democracia Civil
António Justo
As desilusões acerca de políticos e políticas, a sua complexidade e falta de informação objectiva, motivam uns cidadãos e desmotivam outros a deslocarem-se aos locais de voto.

Cada vez se torna mais difícil permanecer fiel a um partido ou a encontrar um que satisfaça a própria visão política. As ligações sociais e culturais tradicionais de filiados e adeptos têm sido sistematicamente desacreditadas. A desilusão conduz muitos a não votarem. Os partidos, cada vez se desvinculam mais das regiões, da natureza e do povo, para darem mais relevância à ideologia e à banalidade pragmatista. Em Portugal a macrocefalia com a sua concentração em Lisboa mais agudiza a problemática duma nação cada vez mais estranha a si mesma.

Os eleitores protestadores querem manifestar com o voto o seu descontentamento para com os governantes quando fazem uso do boletim de voto para colocarem o nome duma pessoa ou partido não considerado na lista (tornando o voto inválido, colocando a cruz em todos os partidos ou votando no considerado irrelevante).

Os eleitores tácticos procuram com o seu voto fomentar coligações.

Os eleitores bonzinhos querem ver na política visões, justiça, o que ela, em democracia partidária, não pode dar. Esperam uma política de visão completa e não partida, esquecendo que o Partido é partido não podendo pela sua essência ser inteiro.

Os abstencionistas tornam-se, entretanto, num partido com aspirações a maioritário. Uns protestam, outros não sabem o que eleger; outros sabem mas não querem, pelas mais diversas razões. Também os há que não votam para que o partido não seja indemnizado pelo dinheiro do Estado, na comparticipação devida por votante.

Na imprensa aparecem opiniões a defender a participação com o voto e outras contra ela.

Os defensores da participação nas eleições argumentam com a obrigação civil livre de votar. Assim, o eleitor pode influenciar a governação dos 4 anos e manifestar que está atento à política, podendo mais facilmente criticá-la ou aplaudi-la. Quanto menos o poder popular se manifestar mais oportunidade dá a grupos de interesse duvidoso. A não participação no acto eleitoral favorece extremismos.

Os defensores da abstenção nas eleições argumentam que os não votantes não têm outra alternativa nas listas de eleições que possibilitem mostrar o seu protesto e descontentamento com a política vigente. Muitos não eleitores, mais que por indiferença, não alinham na eleição de partidos que se desviaram do povo que deixaram de representar para defenderem ideologias. Mostram que perceberam o teatro das campanhas eleitorais não reconhecendo nelas alternativas. Muitos não vão votar para se contraporem à dominância dos partidos que se assenhorearam da praça pública (do Estado) avassalando a formação de organizações cívicas. Muitos querem uma democracia menos representativa e mais directa, como na Suiça.

Embora o meu partido inoficioso seja o do arco-íris, aconselho todo o cidadão a considerar bem o seu voto e, no caso excepcional de não votar, organizar ou entrar numa associação cívica que tente intervir directa ou indirectamente na política. Facto é que quem não vota continua a deixar os outros falar e agir em seu nome, sem possibilidade de, pelo menos, protestar perante o partido em que votou.

Muito embora os partidos se tenham assenhoreado de tudo o que é relevante no Estado, isto não pode constituir motivo para a renúncia à implementação duma sociedade civil adulta que mais tarde corrigirá os vícios da democracia partidária no sentido duma democracia civil.

Na discussão política não se encontra um partido da classe média nem um partido conservador, nem tão-pouco são tematizadas as questoes que o Partido Pirata vai colocando por essa europa fora e que são muito oportunas. De facto não é bom que a esquerda continue a privatizar o saber e o capitalismo a propriedade. Socialismo e turbocapitalismo são irmãos gémeos sorvendo da pessoa o seu espírito para o colectivizar e proletarizar em função de superstruturas em que o indivíduo não vale nem tem lugar. Se queremos ser coerentes e humanos teremos de transformar todas as instituições políticas e económicas em verdadeiras oficinas de futuro, um futuro aberto e solidário! Para isso torna-se óbvio participar e contribuir para superar as velhas frentes de esquerda e de direita! O futuro já começa a estar presente numa visão integral de participação na complementaridade.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

PARTIDO PIRATA


“Contra uma Democracia de Simuladores”
António Justo
Partido Pirata está espalhado já em 32 países; Em Portugal e no Brasil ainda não se encontram institucionalizados. Em Portugal há o movimento para a criação do Partido Pirata Português (PPP).

O Partido Pirata é um partido actual, um partido filho da Internet. A sua mãe pátria é a Suécia. Aqui, atingiu 7,1% dos eleitores, conseguindo um mandato para o Parlamento Europeu.

Na Alemanha o Partido Pirata foi fundado em 2006. Nas últimas eleições europeias atingiu 0,9% dos votos. Um deputado do PSD passou para os Piratas. Começaram por se insurgir contra a instrução de processos de direito penal contra a “pirataria” de ficheiros de música e de filmes na Internet. Na Alemanha a média das idades dos membros do partido é de 29 anos.

Os Partidos Piratas manifestam-se contra a ingerência da política e dos partidos na Internet e contra toda a forma de censura, contra a espiral do controlo. Encaram os políticos como intrusos. Preocupam-se com a defesa dos direitos do cidadão e contra a violação dos direitos de privacidade na Era Digital e têm medo dum Estado vigilante. Não se identificam com as estruturas hierárquicas dos outros partidos. Consideram a Internet não apenas como meio de informação, mas como espaço vital.

Lutam pela liberdade num mundo que, em nome da liberdade, os domina. Querem ser um partido que expresse o sentimento da vida segundo o princípio “move o que te move”.

A defesa da liberdade de informação, cada vez mais subornada por políticos e multinacionais da informação, faz surgir, no espectro político a necessidade dum partido à maneira do Partido Pirata. Rebelam-se contra políticas que alcançam os seus objectivos à custa da sociedade civil. Para eles o futuro e o presente são demasiado importantes para estarem entregues nas mãos dos partidos.

Este movimento em curso pela Europa inteira é expressão duma consciência digital, diria mesmo integral, contra a velha consciência mecanicista e determinista de carácter analógico. Neste partido não há esquerda nem direita. Procura ultrapassar-se as dicotomias respirando talvez os fulgores duma nova era baseada na complementaridade, como acontece a nível científico com a física quântica e a nível religioso com o mistério da Trindade.

Muita gente nova está farta duma democracia longínqua, de “simuladores” que parecem ter-se apoderado da república. Estranha, insurge-se veementemente contra a recolha de dados pelos serviços públicos e empresas. A asfixia que o cidadão da classe média reduzido a contribuinte vive, sente-a, a outro nível, a camada jovem no seu mundo e no seu medium de convivências. O Estado manifesta uma sede insaciável de recolha de dados atemorizadora. Este é um perigo muito latente numa Europa que está a ser construída, não a partir da base mas a partir de elites empenhadas no controlo do cidadão através da burocracia.

Assiste-se a um conflito de interesses entre defensores do poder e defensores da liberdade. O Estado, com os seus “ocupantes” quer controlar e reduzir os cidadãos a súbditos. Para manter o satus quo considera a Internet um espaço à margem do direito. Toda a liberdade de opinião e de expressão, até à era da Internet reduzida à opinião pública publicada, torna-se agora, com a Internet, num monstro ameaçador, para um sistema de pensar e de agir muito estruturado. A vanguarda do progresso revela-se desestabilizante do sistema quer socialista quer capitalista.

Os partidos estabelecidos têm medo da concorrência de eleitores jovens. Os políticos tendem para o extremismo de reduzirem tudo à esfera do direito e das finanças, arranjando todos os pretextos para intervirem num espaço da sociedade que ainda não dominam. A conquista da Internet deu-se primeiramente pelas pessoas, passando depois à mão de companhias económicas e, agora, também a política quer entrar nela. Torna-se quase um contra-senso ao quererem regular um mundo virtual pelas regras dum mundo real já tão triste e injusto.

Enquanto os defensores da liberdade na Internet proporcionam uma liberdade individual desconsiderada; os contrários defendem a liberdade dos grupos mais fortes até agora instalados na sociedade.

O perigo dos defensores da liberdade desenfreada está em fomentarem um liberalismo puro que ao fim e ao cabo vem servir os mais fortes.

Quem pretende “civilizar” a Internet, subjugando-a à lei e à ordem tem de se subjugar também a uma nova ordem que se descortina já no horizonte e à dignidade humana. Trata-se naturalmente de introduzir o direito no mundo virtual; a questão será: o direito de quem?

Certamente que não há liberdade incondicional. Decerto que o protesto democrático na Net pode ser impedido pela censura. Facto consumado é que a política vive da expressão da opinião.

O Partido Pirata tornou-se numa nova forma de oposição à margem dos acampamentos políticos. Mais que ter medo deles ou difamá-los trata-se de os tomar a sério para iniciarmos uma renovação mais que óbvia numa sociedade cada vez mais ocupada.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

Portugal entre o Labirinto do Socialismo e o Campo de Touros

CAMPANHA ELEITORAL LIVRE DE CONTEÚDOS

António Justo
Temos tido uma campanha de rostos sem discussão de temas de fundo nem de interesse nacional. Muitos cartazes de fachada que não dizem nada de concreto e nada trazem. Dum lado a retórico e a vantagem do partido de governo e do outro a falta de eloquência e juventude. As armas da democracia são as palavras e estas revelam-se muito fracas de conteúdo. Este é o tempo dos partidos e não do Estado nem do Povo. O que o PS tem a mais de empolamento e retórica falta ao PSD. As máquinas da opinião funcionam, mesmo à custa da verdade. Esta desmotivaria o povo a votar em governos que se servem em vez de servir.

A verdade será dita ao povo depois das eleições. Então falar-se-á mais seriamente da dívida externa portuguesa que consta de 32,6 milhoes de euros por dia, ou seja, cada hora que passa os portugueses devem mais 1,4 milhoes de euros. Portugal caminha, a passos largos, para a anarquia tal como aconteceu na República, a toque de caixa de políticos irresponsáveis que sacrificam o futuro dos portugueses ocultando-lhe a realidade e o estado do Estado. O PM Sócrates, com a sua ideologia e actuar, parece seguir as pegadas dos seus modelos republicanos que conduziram Portugal à falência na República, o que veio a legitimar o golpe militar de 1926 que instaurou a ditadura militar e vem a dar origem ao surgir do Estado Novo como restabelecedor da dignidade de país a nível internacional.

O sucesso imediato dá razão à mentira mas esta tem pernas curtas. A Portugal falta-lhe a consciência duma política civil da verdade por isso aposta num futurismo agnóstico do oportuno. Por isso o país não consegue chegar longe. A pobreza do povo, que temos, não é compatível com ordenados e pensões de senhores parasitários, alimentados à custa dum estado a caminho da banca rota. Em nome da democracia se afirma a tirania dos homens bem, hedonistas, irresponsáveis de fachada alegre e festiva.

Não se assiste a um debate sério sobre a formação (escola) como chave do sucesso e do futuro, pelo contrário vêem-se programas de formação subsidiados pela União Europeia mais dirigidos a dar emprego aos formandos do que em transmitir uma formação séria aferida às necessidades da nação. Estes são dinheiros desviados para interesses individuais e ideológicos à margem dos interesses e das necessidades do país. O governo continua a adiar o país, a desfazer Portugal.

Não há protecção de dados do cidadão; a Constituição nacional, é mais partidária que nacional.

Não se discute a sério o sentido do empenho militar no estrangeiro. Que interesses de Portugal se defendem no Afeganistão?

Que política se desenvolve no sentido de evitar o Dióxido de Carbono e de produção de energias limpas, para se venderem ao estrangeiro. A energia fotovoltaica é reservada para as grandes multinacionais, quando os tetos das casas portuguesas poderiam tornar-se todos em fonte de riqueza nacional e de investimentos rendosos para os particulares que em vez de investirem em cimento e casas poderiam investir na energia limpa.

Quem se empenha pela transformação do sistema de medicina de classes que brada aos céus para a transformar num sistema de medicina solidário. Pacientes encontram-se mais de meio ano e até anos à espera de operacoes fáceis… Médicos importados e outros que se vão formar ao estrangeiro porque o sistema de escola português tem muito de ideologia e pouco de adaptação às necessidades reais do país.

Uma política económica que se limita a atirar cimento e alcatrão parta o cidadão é contra o ambiente e contra os mais fracos e retrógrada. Desperdiça-se o capital da nação em acções duvidosas.

Onde se encontra a discussão sobre a necessidade de regionalização do país contra a centralização desenfreada que só tem servido políticos e elites económicas à sombra dum estado que pretende ser português num país de terra queimada, para lá de certos centros.

Um estado com uma filosofia parasita só poderá continuar a asfixiar o resto da classe média com impostos insuportáveis. Para o futuro não haverá fundos de meneio que possibilitem o estado tornar-se livre. As gerações novas terão de fazer revoluções para poderem recomeçar a construir um país para todos.

O horizonte de Portugal e da democracia não pode ser configurado ao horizonte míope dos partidos nem de arrogâncias de popularidades.

Os revolucionários do 25 de Abril, nas pegadas dos revolucionários do 5 de Outubro, têm feito tudo para que Portugal se tenha de ajoelhar à Espanha ou de dar lugar a novos Gomes da Costa!

Em país habituado a construir e fundamentar a sua identidade em datas revolucionárias sem personalidades à altura não pode ir muito avante.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@google.com

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

CAMPANHA ELEITORAL NO GRAMADO PORTUGUÊS


Povo fora de Jogo e Atletas perdidos nas Fintas
António Justo
Vazia de contudo com figuras de barões de rostos polidos. A horizontalidade socialista afirma-se contra a verticalidade conservadora. Faltam respostas convincentes aos problemas a resolver na próxima legislatura: endividamento do estado, desemprego, envelhecimento da sociedade, emigração, energia alternativa, escola e saúde, ocupações precárias com salários de judas, tudo problemas adiados.
Fora de jogo
O povo não aguenta conceitos para resolução da crise e os partidos, para evitarem uma maior erosão do eleitorado contentam-se com perfis de imagens. Não falam das obrigações e encargos futuros que pesarão dolorosamente sobre todos nem da maneira de resolver a crise.

Esta é a hora dos partidos pequenos que podem criticar e fazer ofertas de benefícios na certeza de não serem chamados à responsabilidade governamental para os poder cumprir. Os partidos grandes que façam promessa só poderão mentir ou fazê-las a favor da ideologia contra o país.
“Benfica” contra o “Porto”
Apesar de tudo há uma cera polarização, atendendo a que, na liga, o líder campeão tem metido golos na própria baliza, não ligando aos colegas de equipa nem à natureza do relvado que tem. Isto, num país do futebol, é grave mas não ameaçador. Os adeptos têm grandes reservas na capacidade de frustração quanto ao “Benfica” e ao “Porto”; relativamente aos outros clubes não passam de tambores da festa eleitoral que se aproveitarão dos erros do maioral. Quanto a técnicas e metas a atingir, os adeptos contentam-se com o olhar para os capitães de equipa num desejo imenso de levantar as mãos para os poder aplaudir. Os restantes, os espectadores televisivos, desconhecedores das regras do jogo, esses não lhes resta senão dar asas ao sentimento e lançar umas carvalhadas contra uma ou outra jogada dalgum jogador.

O “Benfica”, macho e galaroz, com o seu avançado Sócrates, tem até força para colocar jogadores fora de jogo como no caso da TVI. Tem muitas bandeiras e bandeirinhas além dos seus fiscais no gramado português, não lhe faltando também o cacarejar das galinhas mais interessadas nas suas penas do que no seu jogo. Alguns pretendentes a galo da equipa sofrem, sabendo que só poderão mostrar a sua voz quando o galaroz se encontrar distraído no poleiro ou no caso de perder muitas penas no despique.

O “Porto”, com a sua avançada Manuela, mais preocupada com a sorte do galinheiro, encontra-se um pouco apreensiva das caneladas e rasteiras que a equipa adversária lhe tem passado, apesar de algum árbitro distraído com o aplauso das claques das bancadas da esquerda. Aposta no rejuvenescer de energias depois do intervalo! Não parece convencida numa vitória, seja ela de quem for, e que trará grandes surpresas negativas para a liga, dado só então ser aberto o jogo e serem postas as cartas na mesa. Por outro lado, mesmo que a adversária do campeão da liga soubesse o estado mísero da mesma, não o poderia apresentar, porque, como antigamente, os anunciadores de más notícias são sacrificados. O povo não aguenta a verdade. Por isso, só quem promete ganha.

Na falta de jogo (programa) a opinião pública ocupa-se das escorregadelas dos jogadores em terreno, de escândalos inocentes provocados pela chuva e do que poderia estar por detrás do terreno escorregadio.

Com o andar do jogo, a situação não parece fácil para os que se encontram na tribuna. O craque das bancadas já não soa tão ritmado. Na falta de maiorias absolutas, sempre perigosas para a democracia, os partidos têm que manter sempre uma janela aberta para o vizinho da Direita e da Esquerda.

Se pensarmos nos interesses de Portugal e não no dos partidos a próxima legislatura precisaria duma coligação PSD – PS. Só assim, longe de interesses de clientelas poderia Portugal arregaçar as mangas e fazer algo pelo país e pelo povo.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

sábado, 19 de setembro de 2009

A ORAÇÃO DO CÃO


António Justo
Tenho um amigo padre, o Carlos que tinha um cão e o respeitava tanto que lhe cedia um lugar nobre na igreja: um lugar ao lado dos acólitos. Sempre que celebrava missa, lá estava o cão, de patas juntas, juntinho ao altar. Em atitude recolhida juntava, à sua maneira, a sua prece à dos humanos. As mesmas preocupações pareciam elevar-se juntas com o incenso para o céu.

Era de admirar tanta sintonia e solidariedade numa natureza de pecado e inocência. Naquela comunidade, mais habituada à rotina e ao folclore das festas litúrgicas, aquela atitude de solidariedade já presente no presépio e recordada no Natal, foi considerada inteiramente fora de estação. A atitude do padre, que não a do Fiel, provocara o sentimento de alguns fiéis, fazendo erguer aos ares a voz dos cães de guarda da ordem e do pensar correcto. Um uivar canino de timbre acirrado se ergue aos céus na praça pública.

“Um atrevimento”, “uma provocação “, “uma falta de respeito”, -murmurava o adro da sociedade. O gesto do padre provocara o sentir de parte daquela paróquia a Sul do Tejo. Com o tempo já se não distinguia entre paróquia e freguesia!

Ao Carlos, tão inocente como o “Fiel”, não lhe entrava na cabeça o porquê de tanta indignação nem da tal “Falta de respeito”. E lá, na parte que o distinguia do cão, o sacerdote questionava-se: “Falta de respeito?” De quem e do quê?”…

Ele que não acreditava numa sociedade de trelas e coleiras e habituado a alertar o humano para os embondeiros da sociedade que não deixam crescer erva nem arbusto debaixo da sua sombra, não podia entender o sentido dos uivos dalguns irmãos contra os mais pequeninos ali presentes no Fiel.

O motivo daquele desentendimento todo estaria na falta de sensibilidade, na falta de compreensão do evangelho por aquele rebanho alérgico a cães, o que, no entender de Carlos, se resumiria numa alergia a humanidade, numa ingratidão e falta de solidariedade para com os irmãos mais fracos da criação! “O que fizerdes ao mais pequenino a Mim o fareis…” lembra o Evangelho e o Carlos também.

Enfim, mais um atraso na realização da Boa Nova…, mais um sinal vermelho colocado pelos “embondeiros” do poder e da comunidade, no currículo duma pessoa honesta que apenas cometera o erro de ouvir a voz duma espécies vítima e descontente com a sua vida de cão. Afinal só lhe restava rezar e pedir a Deus que desagrave tanta descrença e desrespeito entre as criaturas… Sozinho e só como o cão, o amigo Carlos só encontrava consolo nas palavras que repetia em atitude meditativa: “Venha a nós o Vosso Reino…”

Também o Fiel, na sua atitude recolhida, tinha pedido ao mesmo Criador pelos irmãos que viviam sob o jugo dum destino preso a um cadeado. Também ele, no momento da oração dos fiéis, lançara um olhar para a cruz do altar, numa súplica, já não pelo pão, mas pelo restabelecimento da dignidade animal e da íntegra solidariedade, a todos comum, antes da queda do pecado original. Humilde, também ele pedia pelos senhores, pelos donos da trela para que Deus os ilumine.

“Que o coração una o que a razão desuniu!” -repetia o Fiel depois de cada prece, numa ladainha de pedidos, que mais faria lembrar um exame de consciência dos pecados do irmão Homem contra a natureza, contra animais e plantas do que uma acusação. Ele que, como o Carlos, se entrega todo inteiro ao dono, ao Senhor, em estado meditativo, já não ergue os olhos para o senhor mas para o Criador; que acabe com tanta ingratidão e falta de respeito entre as criaturas. “O justo conhece as necessidades do animal mas o interior do ímpio é cruel”(Prov 12, 10).

Um mundo sem donos nem senhores, uma sociedade de cães sem coleira seria o princípio dum mundo novo, justo e digno…um mundo de todos para todos!
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas dos Animais
antoniocunhajusto@googlemail.com

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

MAIS ALEMANHA! E PORQUE NÃO MAIS PORTUGAL?


O TRIBUNAL CONSTITUCIONAL ALEMÃO QUER A EUROPA MAIS DEMOCRÁTICA
António Justo
Em democracia o executivo tem de ser controlada com eficácia. A política da EU não pode continuar só nas mãos do Governo e do Ministério dos Negócios Estrangeiros, decidiu o Tribunal Constitucional Alemão em Karlsruhe. O Parlamento nacional além do papel de legitimador das disposições da EU tem de ser envolvido também na sua feitura. O Tratado de Lisboa (espécie de Constituição da EU) não pode ser aplicado sem mais.

Pela terceira vez os políticos são admoestados por decisões do Tribunal, que exige maior legitimação democrática na aplicação do Tratado de Lisboa. Como na Alemanha não houve plebiscito nacional para legitimação do Tratado de Lisboa, o Tribunal põe-se ao lado do povo exigindo mais poder de participação e intervenção dos deputados federais em questões da EU e de outras.

A política europeia não pode continuar reservada aos governos. Estes fazem passar decisões importantes na vida dos povos à margem do parlamento reduzindo-o a um mero papel de legitimador no fim do processo.

Em países de consciência menos democrática a política da EU ainda continua a ser considerada matéria reservada ao Governo e ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, que sem grande dificuldade marginalizam o Parlamento. O Tribunal Constitucional Alemão diz não a esta situação. Admoesta os deputados para assumirem mais responsabilidade. Critica o facto de a Assembleia da República ter abdicado levianamente do seu direito de intervenção delegando sem mais competências em Bruxelas. O legislativo tem de se ocupar de novo com o Tratado de Lisboa, para o submeter às rédias do povo e assim o disciplinar. O Parlamento não pode continuar a dar-se por satisfeito com informações vagas do Governo nem aceitar a mania sistemática dos segredos. O grande aliado da Assembleia Nacional é o Tribunal constitucional.

Os políticos, depois do puxão de orelhas do Tribunal, parecem ter aprendido a lição. Convencionaram considerar o Parlamento como parceiro nobre em questões de EU e não só. A parceria deverá relacionar-se a tudo o que tenha a ver com política interna e externa da EU e com convenções económicas internacionais.

Muitos assuntos europeus terão de passar a ser discutidos na Assembleia da República da Alemanha antes de saírem de Bruxelas. Até agora Bruxelas fez praticamente o que quis sob a vontade dos governos.

O melhor modelo de comparticipação popular em questões de EU é o dinamarquês. Aqui o Governo, nas suas conversações, está dependente das indicações do Parlamento.

Em Portugal o governo continua a actuar sem necessidade de se justificar. Os interesses do governo podem passar à margem dos interesses do povo.

Temos mais Alemanha e menos Portugal porque a Alemanha é mais povo, mais nação enquanto Portugal é mais governo, a pretexto de povo e de nação.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

domingo, 13 de setembro de 2009

CRÍTICA DA TOLERÂNCIA PURA


A Tolerância da Intolerância um Sinal da Decadência?

António Justo
Afinal, a frase evangélica, “no caso de te darem uma bofetada na face poe a outra face à disposição do inimigo”, só parece ser própria para afirmar o rosto dos outros! A dinâmica e relevância dos grupos mais fortes da História têm dado razão aos militantes sociais e não aos pacíficos.

O autor Henriyk M. Broder no seu novo livro “Kritik der reinen Toleranz” (Crítica da Tolerância pura), censura a política da tolerância perante imigrantes intolerantes. Broder é conhecido também pela crítica da violência de motivação islâmica e doutros males sociais. Critica o abuso de certos grupos que abusam do recurso à assistência social à custa dos trabalhadores. Entre muitos casos de abuso, relata o exemplo dum islamista de origem egípcia que nunca trabalhou, adquiriu a nacionalidade alemã, vive em Berlim e recebe pelos os seus 7 filhos 2300 euros por mês, além da complementação da renda de casa e outros apoios. Até aqui nada de especial, o problema é que ele conseguiu impor o nome de Dschiad (Guerra Santa) para o filho, através do tribunal. O processo que ganhou em segunda instância foi subsidiado pela assistência social.

Broder não consegue compreender que haja alemães com trabalhos precários e por outro lado muita gente a servir-se descarada e arrogantemente dos impostos dos trabalhadores. Para ele constitui problema o facto de muçulmanos se encontrarem sempre no centro dos acontecimentos. Enquanto que Hindus não se queixam da Alemanha pelo facto da comida de carne de vaca; em Berlim muçulmanos “queixam-se que a grelha dum recinto de encontros para grelhar está contaminada pela carne de porco e exigem a colocação dum grelha só para muçulmanos. Tal coisa ainda não ouviu dizer de Hindus que não comem carne de vaca nem de Judeus que têm nojo de carne de porco”. Os turcos e muçulmanos têm uma grande lóbi e os cidadãos nativos são abandonados a si mesmos pela política. Até já chegam a exigir um espaço nas escolas para rezarem.

O jornalista sente-se inquieto porque “onde hoje há conflitos sociais, quase sempre se encontra lá uma minoria muçulmana activa. Quando se fala de problemas de cidadãos de fundo migrante, trata-se sempre dum grupo determinado. São sempre turcos ou cidadãos muçulmanos de países árabes”.

Broder tem uma explicação para o facto: “… são grupos socialmente problemáticos e que dão nas vistas…isto deve-se a diferenças culturais, de que não queremos tomar conhecimento”. Na Alemanha, segundo estatísticas, 34% dos jovens turcos já cometeram um acto criminal e 30% das mulheres turcas apanham porrada dos seus maridos.

Até ao atentado de 11de Setembro de 2001 tinham “liberdade de loucos” porque a sociedade não se preocupava com os seus verdadeiros problemas no sentido duma “capitulação preventiva”.

Para o jornalista existe na sociedade um medo real sob os bastidores da ameaça, tal como aconteceu no caso de Salman Rushdi e das caricaturas dinamarquesas de Maomé. Os bastidores da ameaça “funcionam até no caso de não serem activados”.

Broder interpreta o fenómeno da sociedade apática e medrosa a um sentimento de sociedade do bem-estar, que se quer esquecer e se odeia a si mesma. Uma sociedade que já não conhece exigências existenciais. Vive-se numa sociedade farta refugiada na fartura e que “no caso de ser confrontada com desafios autênticos, já os não pode confrontar e procura a culpa sempre em si mesma”.

O problema da Alemanha e da Europa não está em ter imigrantes a mais mas sim em ter perdido a sua ética, a sua integridade e a sua responsabilidade individual e colectiva. O problema não está na tolerância a mais mas na falta de personalidade cívica e cultural dos cidadãos ocidentais.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Reforma das Universidades e dos Institutos Politécnicos


Praxismo Socialista desmiola o Humanismo Cristão
António Justo
Com a implementação do Processo de Bolonha pretende-se reordenar e uniformizar as universidades europeias. A reforma orienta os currículos universitários para a produção económica e tende adaptar-se à sua massificação. Os novos perfis e ciclos de formação universitária, pretendem fabricar bacharéis e mestres de configuração mercantil. A universidade perde a sua autonomia científica para ficar subordinada à pressão da economia, das leis do mercado e dos interesses políticos. Pretende-se um sistema universitário instigador da concorrência entre professores e cadeiras. Desfavorece-se a ciência em favor da técnica no sentido de facilitar cientistas irreflectidos.

A resistência por toda a Europa a esta reforma tem a ver com a defesa de valores de tradição humanista que os novos magnates não entendem. Os Estados obedientes ao ditado da economia pretendem reduzir ainda mais as ciências humanas ou quando muito pô-las ao serviço da economia. O bom senso levanta-se também dentro das universidades, mas os interesses dominantes podem mais. Antigamente a exploração do Homem assentava na ordem social, hoje a sua desumanização é baseada na ordem democrática partidária atrelada ao turbocapitalismo.

No século XIX e XX o operário foi mantido afastado da vida espiritual e cultural da nação. O saber e, com ele, o Estado estavam nas mãos da burguesia. Assim o legitimava a ordem mecanicista e determinista da ciência, o darwinismo social e a tradição. No século XX, os mesmos, alistados nas elites de ideologias preponderantes ocupam o Estado prolongando assim o século XIX. Ignoram o espírito integral da nova era (a nova ordem a surgir da física quântica e da dinâmica trinitária do ser). Em nome do progresso, a cultura de espírito proletário marxista vai-se aninhando nas universidades. Com o argumento republicano e democrático, as elites do poder afirmam-se na luta contra o elitismo do pensamento. “Proveito imediato” é a palavra de ordem dum utilitarismo míope destruidor de futuro ecológico e humano.

As universidades reflectem cada vez menos a vida espiritual e cultural europeia e nacional. Correm mesmo o perigo de serem reduzidas a oficinas modeladoras de intelectos ao serviço da indústria e do comércio internacional. Os ventos da ideologia proletária, com a sua ética do consumismo, determinam a orientação do espírito da universidade. O espírito que orienta a reforma em curso não parece compatível com o espírito livre e humanista da universidade tradicional que foi garante e expressão da cultura ocidental. A nível institucional, sacrifica-se a cultura do homo “sapiens” ao homo faber. Assiste-se à consumação do mecanicismo determinista numa época que já o superou cientificamente.

A economia do mercado e o sistema democrático partidário pretende forças de trabalho à disposição e uma burocracia fiel e maleável. Espíritos livres e pensantes só emperrariam o seu carrossel. O espírito, o saber integral e integrado seria areia na engrenagem da sua máquina a dificultar uma produção lucrativa. As elites económicas e políticas apostam na parte escura do Homem e na verdade oportuna do momento; querem prescindir de orientação científica humanistico-espiritual. Contudo, utlidade não constitui por si mesma um critério moral.

O desejo do saber e de liberdade foram a razão da expulsão de Adão e Eva do Paraíso… Os deuses do nosso Olimpo são pessoas ciosas do poder e do seu saber; por isso repetem o gesto de Júpiter para com Prometeu que pretendia, contra a sua vontade, comunicar aos homens a chama da sabedoria divinal. Prometeu queria os homens livres e por isso deu-lhes o fogo que roubou aos deuses. Os deuses são invejosos e cientes do que têm. Como vingança, Júpiter prendeu Prometeu a uma pedra no Cáucaso e mandou uma águia alimentar-se do seu fígado, durante vários anos, até ao dia em que Hércules o libertou. Os nossos deuses são mais civilizados que os deuses antigos e em vez de degradarem os inteligentes procuram dar-lhes um posto nas antecâmaras do Olimpo, no seu sistema e na administração para assim impedirem a comunicação da chama do saber ao povo.

Sobrecarrega-se o estudante com cadeiras diversificadas não restando ao estudante tempo para pensar nem a possibilidade de adquirir uma visão de conjunto. Falta uma fenomenologia que mostre ao estudante a conexão entre as diferentes ciências e entre os diferentes áreas da vida. Falta uma consciência e uma praxis que leve o estudante a confrontar-se com as duas formas de acesso à Realidade: uma de carácter material através das leis naturais e a outra de carácter espiritual ou humana que parte da pessoa com uma individualidade e responsabilidade própria. Espírito e matéria são as faces complementares da mesma moeda (realidade).

As ideologias partidárias sofrem de velhice alimentando-se ainda duma ciência mecanicista que alcançou a sua fluorescência no século XIX mas já não terá validade alargada no século XXI, o século a construir baseado na física quântica e num humanismo integral (que apelidaria de trinitário).

O saber inteligente cede ao saber integral para lá da órbita das normas e do hábito. Os novos conhecimentos da física e das ciências humanas já não permitem confundir o método científico com a verdade absoluta. O físico Friedrich v. Weizsäcker, demostra já em 1964 que a ciência baseada em Newton não constitui a verdade sendo apenas um determinado método de investigação. Se as ciências da natureza investigam a expressão das formas a partir das leis da natureza com o mundo dos sentidos, as ciências humanas expressam a forma das leis. A hipótese de Darwin da origem das espécies através de acaso e selecção também já foi cientificamente refutada, mas continua a ser oportuna para as elites. O mundo é muito complexo pressupondo uma „ordem central” que se impõe independentemente de ordens parciais incluindo também a ordem causal. A realidade encontra-se na complexidade e não na bagatelização quer das ciências humanas quer das ciências naturais.

Primeiro apagaram os candeeiros das catedrais e agora apagam a luz das universidades. A independência do professor e seu saber são submetidos à burocracia e à produção. O espírito proletário vigente, desvaloriza o espírito humano integral e procura reduzir tudo ao nível do meramente funcional, à banalidade do factual elevada a filosofia de vida.

A construção da nova sociedade digna do Homem pressupõe uma consciência nova no processo de hominização do indivíduo e dignificação duma sociedade aberta em processo. A liberdade e a solidariedade serão as suas forças determinantes no sentido da dignidade humana e da dignidade de toda a criatura da natureza. Para isto é preciso acordar tanta gente bem intencionada das instituições sociais e económicas. Só um alargamento da consciência e desenvolvimento da personalidade de cada pessoa poderá provocar uma mudança para melhor. A crise está a ser aproveitada pelos espertos de sempre. Os sinais dos tempos apontam para a necessidade do surgir duma elite espiritual humanista na qual se possa apoiar a democracia cívica. Cada vez se torna mais impossível uma reforma do sistema a partir de dentro. A não ser que por todo o lado vá surgindo uma elite humanista espiritual com os pés bem na terra e na qual se possa apoiar o processo da democracia que passará a ser um processo de humanização. Esta fomentará o querer, a formação integral, a auto-realização e a participação no poder. Temos motivos de esperança: O socialismo também tem os seus valores e é o filho pródigo da cultura judaico-cristã!...

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

terça-feira, 8 de setembro de 2009

ESCOLA – UMA SOCIEDADE DE TODOS PARA ALGUNS


Ideologia é vida em segunda mão, é vida da cabeça dos outros
António Justo
O primeiro-ministro José Sócrates, enquanto chefe do governo, conseguiu distanciar a escola dos cidadãos para a subordinar aos interesses do governo. Maquiavélico, difama os professores roubando-lhes a dignidade humana e social. Agora, em tempos eleitorais faz promessas aos que antes ofendeu. Com promessas “e bolos se enganam os tolos”!... Conta com a fraca memória do povo e sabe que a isca da ideia pode muito em cabeças vazias ou distraídas! O processo de remodelação escolar por ele iniciado tende à burocratização da escola para a pôr inteiramente ao serviço do sistema e dos que o dominam.

Que o Governo não seja sempre humano nas suas decisões é compreensível, o que se torna intolerável é o cinismo com que têm incrementado o processo de desumanização das escolas. Conseguiu introduzir ideologia pela porta travessa da burocracia, reduzindo sujeitos a objectos. Ideologia é vida em segunda mão, é o estrume que alguns lançam nos campos da nação mas onde só alguns medram.

Uma escola quer-se um espaço livre e isento de política partidária, um lugar de todos onde a comunidade educativa se desenvolve numa dinâmica interrelacional de realização da dignidade humana individual e social.

Uma escola fiel à sua vocação genuína e aos interesses duma sociedade digna do Homem é o lugar da criatividade onde educadores – educandos realizam as suas capacidades individuais, a sua personalidade, numa atmosfera de liberdade responsável. Só um ensino virado para a personalidade, para a pessoa integral e não apenas para o intelecto possibilitará pessoas realizadas, livres e criativas. Um ensino dirigido só para o intelecto cria pessoas dependentes e frustradas. A escola terá de se tornar num espaço livre, numa comunidade educativa de descoberta recíproca. O saber mais profundo e transformador acontece na vivência do testemunho directo.

O sistema democrático partidário vive de ideias, não quer modelos e prescinde mesmo de personalidades íntegras; investe de preferência em ideias à margem de ideais de vida e em pessoas já acabadas e com certezas, não interessadas na procura da verdade. Odeiam tudo o que é processo, ignorando que o ser humano, a natureza e a sociedade são um processo vivo, nunca objectivável tal como a verdade. São relação a acontecer. Isto contradiria os princípios e estratégias que os levaram ao poder: dividir para reinar, desumanizar para mandar. A procura da verdade e a formação de personalidades abertas constituiria um estorvo numa sociedade que querem partida e repartida. Por isso querem uma escola que sirva verdades mastigadas pelas bocas da ideologia, seja ela qual for. Querem uma sociedade de certezas mas não de verdade. Assim, um povo sem personalidade nem personalidades estará sempre disponível e agradecido, chegando mesmo a ter momentos de empertigação ao contemplar as “personalidades” insufladas de poder. Assim se estigmatiza um povo, levada à situação de jarra partida, reduzido a cacos partidos, a ser colados pela cola da inveja...

Por isso todas as ideologias autoritárias são pelo ensino nas mãos do estado, contra a construção duma sociedade civil democrática que purificaria o regime democrático partidário. Por isso o sistema autoritário contra uma sociedade humana aposta em planos escolares burocráticos e não numa pedagogia livre, humana e integral sempre em processo contextuado. Não acreditam na dignidade da pessoa nem na dignidade da sociedade. Querem modelá-la à imagem e semelhança de suas ideologias feitas de ideias ressequidas e nascidas da inveja e do ressentimento, que trazem em si o veneno de toda a criatividade. Querem uma escola prosélita que reduza a dignidade do aluno à categoria de coisa e os docentes a meros instrumentos da sua máquina burocrática. Querem cidadãos convictos de ideologia e não convictos da vida.

Nas manifestações massivas dos docentes, a sociedade portuguesa não se deu conta da complexidade do fenómeno e caiu na esparrela do governo não descobrindo o desejo de liberdade e de criatividade muito escondido por baixo duma classe que consciente ou inconscientemente reagia à ideologia burocratizada na escola. Falta-lhes a vontade e a fantasia ainda latentes na criança depois frustradas com o andar escolar. A fantasia da criança é ocupada pelo intelecto vocacionado para a análise e para conexões lógicas numa visão da realidade como a soma de partes isoladas enquanto que a fantasia e a intuição, que parte duma visão panorâmica do todo para as partes, é sufocada. No aguentam a visão do vaso completo, querem-no partido... Em vez do fomento das forças criadoras naturais da criança investe-se tudo num tipo de escola que ignora as aptidões individuais, estiolando-as no sentido duma adaptação inconsciente a um sistema morto e que vive predominantemente num estado inconsciente. Falta o equilíbrio entre as disciplinas e a aferição das mesmas às idades, falta-lhes a consciência da dignidade humana e da dignidade dos seres em geral. Neste contexto a escola deixa de ser processo possibilitador de processos de humanização e de socialização humana para se reduzir a oficina de adaptação e de reparação de peças para a máquina Estado. A este incomodaria uma escola empenhada no desenvolvimento da personalidade, dado que o que lhe convém é a formação duma sociedade rebanho, com um cidadão tipo cão. A democracia partidária é coesa em si mas desacredita a democracia civil ao privilegiar o fomento duma cidadania canina.

A vida dum povo, duma nação está dependente da sua criatividade e do seu espírito de liberdade. Não é suficiente uma formação geral a nível de TV. Esta retém e oculta a vida cultural e espiritual vivendo duma imagem de homem e de sociedade sobretudo alienante. O homem coisificado é de fácil domínio.

O partido quer votantes e a fábrica só quer braços. A cabeça estorva e o coração só interessa como músculo. Por isso se encontram Estado e Economia tão unidos na transformação da sociedade em mercado e do cidadão em proletário alheado.

Acabou-se com as fronteiras da nação, da raça e da religião para se criarem os canteiros das ideologias partidárias e os lameiros da economia.

Numa sociedade turbocapitalista e de ideais marxistas, o pensamento deu lugar à ideologia, que se revela como o melhor ópio do povo. Neste sentido a escola quer-se reduzida a uma oficina do sistema e não uma instituição processo possibilitadora de processos no sentido da personalidade e dum desenvolvimento superior.

As revoluções não têm sentido, só servem os mais iguais. A construção duma sociedade humana é um processo contínuo contra a alienação e com lugar para o sonho. Só um empenho pessoal e iniciativas na criação de biótopos naturais, com uma atitude crítica perante o Estado e o sistema, possibilitarão uma certa imunidade contra a corrupção e facultará uma cultura civil do humano transcendente, capaz de humanizar a democracia partidária. Só o empenho na humanização do homem e da sociedade poderá ser gratificante e impedir a frustração duma sociedade de cartaz. Não há verdade feita, não há Homem feito, um e outro são a mesma realidade a acontecer.
António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

DISTÚRBIO BIPOLAR OU TRANSTORNO BIPOLAR


António Justo
Antes de começar a falar desta doença devo esclarecer que não existe nuinguém sem doença nenhuma. Na definição de doença entram aspectos de convenção social e subjectiva. Aquele que descobre em si a doença de que é portador tem a possibilidade de se tornar menos doente.

Falo desta doença porque já tive amigos que a tinham e a amizade sofreu pelo facto de eu os considerar sem doença nenhuma. Recentemente conheci uma amiga que identifico como ter esta doença. Por isso vou falar da doença na esperança de poder ajudar.

Esta é uma doença muito difícil de descobrir embora a percentagem de pacientes na população oscile entre 1% e 8%, com diferentes graus de gravidade. Familiares e amigos queixam-se mas vão sofrendo com o comportamento de tais pacientes (mudanças de humor) sem qualquer possibilidade de os poder ajudar de facto. Depois de relaçoes muito gratificantes, amizades destroem-se no meio de muita desilusão! Sofre o paciente porque pensa que é normal e sofrem os familiares e amigos porque o tratam como normal: dum lado e do outro um factor comum: a desilusão. O paciente sente-se uma eterna vítima. “A culpa morreu solteira!”

Esta doença pode ser bem dominada se a pessoa passar a ter um comportamento regular, precisando para isso de se tratar, ser ajudado e deixar-se ajudar. Isto é muito difícil porque estas pessoas são muito inteligentes e e interessantes. A criatividade e riqueza de experiências que vivem na fase eufórica leva-os a recalcar a sua fase depressiva.

Muitos médicos não reconhecem a doença porque os pacientes só se dirigem a eles na fase depressiva, deixando na sombra outros sintomas muito importantes, os da fase eufórica. Por isso só 10% a 15% recebem terapia adequada. Na origem da doença está um factor genético além de circunstâncias duma vida estressante que conduz à sua manifestação.

A doença caracteriza-se por duas fases: uma fase depressiva e uma fase eufórica. Na fase Depressiva há carência de Noradrenalin e Sertonin. Na fase eufórica excesso de Dopamin e Noradrenalin.

Sintomas
Dá-se uma oscilação de humor (boa e má disposição) muito extrema. Com o tempo não se chega a notar o porquê da mudança de humor. A uma fase de boa disposição e euforia segue-se uma fase depressiva (dias, semanas, meses, …). Também pode haver fases de mania ou depressão quase ao mesmo tempo. Estas fases de mistura são um peso muito grande para o paciente e para a família e amigos. Distúrbios bipolares não são apenas perturbações de boa ou má disposição. São doenças que perturbam todo o ser do paciente a nível de pensar, sentir e agir.

A doença decorre em episódios de mania eufórica e de depressão em períodos de 4 a 12 meses, sendo a fase depressiva mais longa para muitos.

Sintomas do pólo (fase) eufórico (mania)
São muito activos e inspirados. Sentimento muito elevado de boa disposição exagerada e acompanhada do sentimento subjectivo de grande capacidade de trabalho (criatividade e engajamento). Não têm grande necessidade de dormir e de descansar. Em casos extremos surgem alucinações. Não aceitam ter problemas e falta-lhes o espírito crítico. Falam muito e falta-lhes a distância no trato com outras pessoas, que se deve a falta de inibição social e de senso crítico. Vivem no e do sonho. Têm saltos de ideias de modo que o interlocutor tem dificuldade em segui-los. Começam muitas coisas, muitos trabalhos mas não os acabam. Com grande auto-estima sentem-se ser os melhores; para eles, nesta fase, não há pai! Para levarem um trabalho ao fim fazem esgotar a paciência daqueles que lhe deram o trabalho. São desinibidos e têm a mania de comprar sem olhar às suas possibilidades. Vivem geralmente com as calças na mão. Com o tempo os amigos evitam-nos.Também no exercício da sexualidade exageram, encontram sempre terreno a “desbravar”.Têm grandes ideias, e planeiam continuamente algo mas contentam-se muitas vezes com os planos. Grande sobrestimação de si mesmos que os impedem de aterrar e andar com os pés na terra. Vivem sempre com dívidas devido ao irrealismo e exagerada avaliação de si mesmos. São convencidos e chegam a convencer e entusiasmar no princípio. A desinibição exagerada leva-os ao sentimento de vergonha e culpa na fase depressiva.

Sintomas na fase depressiva:
Nesta fase o paciente sente o apagar-se dos sentimentos, dá-se como que um empedernimento e a perca de interesse e energia, que conduzem à tristeza e à ansiedade. Falta de concentração e de autoconfiança, falta de alegria e tristeza, desinteresse sexual e de coisas alegres; cisma e vê o futuro negro. Têm perturbações no sono, por vezes muita necessidade de dormir. Sentem-se incompreendidos pelo mundo que os rodeia (excepção feita a alguns novos que sempre encontra). O exagero de actividade da fase entusiástica levou-o a esvaziar as baterias. Têm falta de apetite e, por vezes, exagero de apetite. Falta de concentração e de atenção, incapacidade de tomar decisões, sentimento de não valer nenhum. Sentem compaixão de si mesmos. Também chegam a ter o desejo da morte e mesmo à tentativa de suicídio. Sentimento de aperto no peito, disenteria ou prisão de ventre.

No caso de fases mistas de mania e depressão, há grande perigo de suicídio pelo facto de possuir ao mesmo tempo impulso acrescentado e de ideias depressivas.

Diagnosticar a doença
O terapeuta para encontrar a diagnose exacta terá de conhecer a história toda do paciente, quer da fase eufórica quer da depressiva. Para isso o psiquiatra precisaria não só de ouvir o paciente como pessoas da sua relação, dado não haver métodos laboratoriais de diagnose. A diagnose é dificultada pelo facto do paciente não reconhecer a fase eufórica como uma fase doente.

Profilaxe
A terapia medicamentosa nunca deve ser interrompida, durante toda a sua vida. O paciente tem de aprender a reconhecer os sinais que anunciam uma fase ou outra. Ainda não há medicamentos que terapiem directamente a susceptibilidade genética. Trata-se de controlar a doença. O método terapêutico depende da gravidade da doença.

No tratamento empregam-se, pelo que conheço, duas espécies de medicamentos: estabilizadores da disposição e medicamentos de intervenção. A medicação só tem efeito completo depois de duas a três semanas. Os medicamentos de intervenção acompanham o paciente durante toda a sua vida.

Na Alemanha emprega-se várias substâncias como medicamentos estabilizadores da disposição: Lithium e os três antiepilepticos: carbamazepin, valproat e lamotrigin. Também se usam neurolépticos atípicos.

Medicamentos de intervenção usam-se na fase aguda da depressão e da euforia. Empregam-se neurolépticos na mania e anti depressivos na depressão, além de remédios para dormir ou sedativos.

Há outras formas de terapia não medicamentosas. Uma delas é a Electroconvulsiosterapia (EKT) no caso de risco de suicídio.

Apoio
Um paciente precisa duma pessoa de relação que o ajude. Esta deveria receber do paciente o encargo de tomar a iniciativa em casos precisos, decisoes importante e administração do dinheiro. Deveria com ela, na fase equilibrada, combinar as medidas que ela deve tomar nos momentos da crise. Esta doença envolve todas as pessoas da relação do paciente. Fundamental é que todos aceitem a doença e o tratamento. Fundamental é o controlo da recepção dos medicamentos. Então passará a haver sucesso. Cada paciente deve tentar descobrir o que melhor o pode ajudar: desporto, arte, etc. Muito importante é o ambiente que se frequenta e que espécie de amigos se tem. A pessoa de relao acompanhante deve porém no esquecer que também ela é doente no podendo escondera sua e projectá-la no parceiro e fixar-se só nos seus vícios sem reconhecer a grandeza que por baixo da doena se esconde.

Pessoas com doença bipolar podem ter fases de necessidade de internamento.

São instáveis e muitas amizades e laços familiares destroem-se chegando por vezes ao desespero. São pessoas de grande capacidade artística e teatral que na fase eufórica dão o melhor de si. Grandes personalidades do mundo da arte e da ciência eram bipolares.

Como a produtividade varia muito, geralmente não se mantém muito tempo no mesmo patrão. Muitas vezes sção exploradas na sua fase mais produtiva. Muitos entram na reforma precoce.

Família
A família deve estar informada sobre a doença para poder ajudar e poder ajudar-se a si.
O paciente precisa de muita compreensão e paciência na fase depressiva. Paciência e compreensão sem o pôr sob tutela. É importante que não se sintam abandonados.

Na fase eufórica o paciente sente muitas vezes os familiares como pessoas que impedem o seu desenvolvimento e realização.

Estes pacientes têm pouco sentido da realidade da vida e fazem grandes dívidas o que complica a sua vida e a dos outros.

Os familiares são os primeiros a notar que algo não está em ordem: a sombra da depressão ou o irrealismo da mania, a fase dos grandes projectos. Surgem problemas de dinheiro e de consumo exagerado.

Na fase depressiva precisam de: Companhia sem intervir. Dar sinal que no caso de necessidade se está disposto a ajudar. Não criticar.

Na fase eufórica: Aqui é mais difícil o acompanhamento porque o paciente geralmente nesta fase não aceita ajuda. Uma possibilidade é mandar cancelar a conta bancária e impedir que malbarate o dinheiro e levá-lo a cortar com influências más. Isto naturalmente causa crise, embora fosse necessário. Importante seria fazer um acordo das medidas a tomar mas antes da fase eufórica começar, o mesmo se diga do tratamento.

Muito importante seria participar em grupos de ajuda para troca de experiências e apoio. É importante o engajamento em comum. Sem o apoio de terceiros é muito maior o sofrimento!

Os pacientes são geralmente muito sociáveis e muito prendados. A energia que desenvolvem na fase eufórica encanta muita gente e é muito enriquecedora. Estão sempre dispostos a ajudar este mundo e o outro, mesmo sem deitar contas à própria vida. Depois não chegam para as encomendas e andam sempre a correr atrás do acontecimento. São muitas vezes explorados por oportunistas que abusam da sua bondade natural e do seu irrealismo. Quando têm são uns mãos largas; não deitam contas à vida. Têm um grande problema com a realidade!

O Transtorno Bipolar chega a ter muitas semelhanças com o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), também chamado Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL), o que provoca maior dificuldade de diagnóstico.

António da Cunha Duarte Justo
Pegadas da Vida, Novembro de 2007
antoniocunhajusto@googlemail.com

PS: volto a publicar o artigo por solicitação de amigos

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A A32 ACORDOU A BRANCA


UM POVO À PROCURA DA NAÇÃO
António Justo
A caminhada da população da Branca, realizada a 19.07.2009 contra a destruição da sua fisionomia natural, revela a jornada mental progressiva duma população cada vez mais civil, mais consciente e menos anónima. Acordada pela irresponsabilidade política num Estado que ainda não conhece nem reconhece o cidadão nem as regiões, a população levanta-se contra os interesses de poderes anónimos abrigados pelos mercenários dos ministérios lisboetas. A Branca foi acordada, da sonolência geral, pelo pesadelo da planeada auto-estrada (A 32). Parece não se contentar com os malabarismos vaidosos duma Capital autista que se assenhoreia dos bens das diferentes regiões de Portugal. Nunca será tarde para o Estado descobrir o Povo e o povo descobrir a Nação.

Até agora a vila da Branca tem conseguido a atenção dos partidos das bancadas parlamentares, com excepção do partido do governo que tem sobressaído pela ausência e pela aposta em trocadilhos oportunistas e no tempo pós-eleições. Continuam a interessar-se apenas pelo seu poleiro: Lisboa, o poleiro dos galos de Portugal.

De facto, o que tem vingado é a ideologia e interesses partidários contra a paisagem natural e contra o património popular e cultural, contra as regiões.

O Ministro do Ambiente, movido por interesses escusos, optou, em Dezembro, por mudar o troço de construção da A32 de poente para nascente, querendo fazer passar a auto-estrada por cima do monte de S. Julião, a parte mais exposta e mais rica da Branca a nível ambiental, paisagístico, ecológico e histórico. A decisão tomada desmascara o ministro que não tem sensibilidade pelo Ambiente.

A Branca protesta em peso contra a destruição do património e do ambiente da sua cidade.
A luta da população contra a construção da A32 (uma auto-estrada para moscas e moscados!) que destruirá a sua imagem, sem respeito por espécies protegidas nem pela qualidade de vida da vila nem pelo investimento de capitais e sonhos em casas e urbanizações. O Governo, sem o mínimo de respeito por tudo aquilo que considera “província”, quer degradar uma zona paisagística de primeira classe.

Em iniciativas, manifestações, marchas, idas a Lisboa e reuniões nos espaços da Junta de Freguesia, a população tem-se mostrado incansável. Um inicial movimento de cidadãos contra projectos absurdos parece tornar-se num movimento cívico de cidadãos adultos, cada vez mais empenhados na defesa da terra contra os interesses políticos partidários e de comparsas. A Branca questiona o traçado poente inicialmente planeado e insurge-se contra a opção do traçado a nascente adulteradora do melhor que a Branca tem: a sua encosta que deve ser posta à disposição de interesses políticos e de seus cúmplices por uma “Lisboa” distante e arrogante para quem “o Norte” já fica em terras de ninguém. Na expressão lisbonense “vou ao Norte” parece estar sub-reptícia a sensação de se sair para o indeterminado, de se sair de Portugal.

Nélia Oliveira, presidente da “AURANCA” (Associação do Ambiente e Património da Branca Alb), Joaquim Santos e seus companheiros e companheiras de luta podem sentir-se orgulhosos pelos resultados obtidos a nível de movimentação da população e de fomento do espírito cívico. Conseguem mover a população de forma apartidária e com ela concretizar imensas iniciativas que são exemplo para outras populações, também elas sofredoras da arrogância dum centralismo irresponsável, mas sem terem acordado ainda da apatia habitual que as paralisa para qualquer iniciativa. Aquela apatia que surgiu com a morte de Camões e foi cimentada pelos mercenários do povo que se aquartelaram nas infra-estruturas do Estado e da nação a partir das invasões francesas.

Só um Governo orgulhosamente só e contra a natureza e cultura nacional poderá continuar indiferente à razão e à voz do povo, a tantas excursões de protesto à Assembleia da República, a tantas marchas e a tantas manifestações.

Seja como for a Branca quer “Lutar até vencer”, até curar as maleitas de que o nosso Estado sofre. As 500 pessoas da Branca, presentes na caminhada de protesto contra a A32 estão conscientes de se encontrarem no bom caminho representando os interesses dos 6.000 habitantes da vila e das gerações futuras. Terão de continuar alerta para que a razão e a sensibilidade vinguem. Numa sociedade sem consciência cívica nem nacional (de patriotismo bacanal) vive-se segundo a estratégia infantil: “quem não berra não mama” e se a pequenada não está atenta… eles comem tudo e não deixam nada!... O biberão do Estado é sempre o mesmo e nas mãos dos mesmos. Fascismo e democracia revelam-se como pretextos... Há que acordar, para o Homem, para a nação, para a comunidade, para si mesmo…

António da Cunha Duarte Justo
Um munícipe da Branca Alb
antoniocunhajusto@googlemail.com