domingo, 23 de dezembro de 2007

Feliz Natal

Feliz Natal

e

Próspero Ano Novo

Queridas e queridos visitantes!

Queridas amigas e queridos amigos!

Desejo-vos, de coração, um Natal cheio de graça e alegria e muita saúde, felicidade, sucesso e a bênção de Deus no dia a dia no ano 2008.

Amanhã já é dia de consoada. A paisagem aqui em Kassel já tem um ambiente natalício com a sua brancura da neve e os cinco graus negativos. O frio também contribui para um maior aconchego. Já me alegro ao pensar na consoada.

Depois do stress das compras das pencas, do bacalhau e das prendas vem a preparação da Seia ao entardecer.Com o chegar da noite reúne-se toda a família para a consoada, o jantar da consolação.

Os desejos dos filhos empilhados à frente do presépio e da árvore de natal esperam pacientes pelo seu momento.

Depois duma comida toda ela fumegante a tradição e a espírito familiar passa-se à fase expressiva da noite. Antes da distribuição dos presentes, cada membro da família contribui com algo específico para dar feição adequada à noite. Uns tocam algumas peças de piano, outros lêem uma poesia, uma história por eles feita, ou algum texto natalício. Para terminar a sessão cultural lê-se o texto bíblico que narra o nascimento de Jesus, segundo Lucas 2,1-20. Depois passa-se aos presentes. O filho mais novo irá trazendo as prendas à medida que são abertas.

Finalmente, iremos à missa do galo.

Um abraço natalício cordial

António Justo

Quando dará José à Luz uma Menina?

Natal sempre a acontecer

Paz na terra e aos homens de boa vontade!

Amar mesmo sem se compreender pertence ao mistério do nascimento do Natal. Natal é tempo de festa para crentes e não crentes. Para aqueles que não crêem e apenas vêem no Natal o acontecimento histórico dum homem, também esses têm muita razão para festejar o Natal.

De facto, através de Jesus iniciou-se o amor ao próximo e aos inimigos como um acto de profunda humanidade. Introduz-se no mundo uma nova cultura. Jesus torna-se o protótipo de todas as verdadeiras revoluções ao revolucionar a alma humana.

Natal faz lembrar o presépio familiar. Como José, a vaquinha ou o burrinho, muitos de nós homens, costumamos andar um pouco à margem do acontecimento. O mesmo parece acontecer com a sociedade. Tornamo-nos estranhos, não envolvidos, encobrimo-nos num só papel ou no mundo paralelo das ideias, jogamos aos papéis. Nós homens, primamos por estarmos presentes no momento da geração, aí sim de alma e coração, mas nos outros nove meses e posteriormente, até parece o tempo da balda, da retirada, a não ser quando nos armamos, por momentos, em Pai Natal.

A função de dar à luz, de ser numa só pessoa o presépio todo, passa-se-nos desapercebida. Mais que a vida interessa-nos o teatro, a sua representação. A vivência do nosso papel é tão intensa que nem notamos o passar da vida no nevoeiro, sem nascer. Para isso ela tem que ser dada à luz não por actores representando papéis, mas por homens verdadeiros com capacidade de engravidar, de ser, também eles, mulher e mãe, mulher e homem numa só pessoa. Para se entrar no estado da graça, é necessária a abertura de espírito e coração. No presépio, unem-se os contrastes, entram em diálogo os pólos numa relação de harmonia.

O nascimento é o outro pólo da morte. A morte porém tem-nos preocupado mais que o nascimento, distanciando-nos da vida, passando a dominar o medo sobre a esperança. De facto ninguém nos perguntou se queríamos nascer nem se queríamos morrer. O mistério é porém o espaço que nos resta e possibilita a humanização.

A celebração do Natal pretende colocar a natalidade, a criatividade, no centro do acontecer. O comércio apoderou-se dele e, muitas vezes, não passa tudo de distracções do Natal e da vida. Uma distracção para festejantes e para críticos.

Naturalmente que as ofertas podem ser uma imagem do dom do Natal, ou talvez umas palhinhas que ajudem a aconchegar um pouco melhor o menino…

Na vida intra-uterina resume-se o desenvolvimento da natureza e do universo. O mesmo se dá entre o nascer e o morrer. O processo de dar à luz é universal, um acto continuamente presente de gerar, conceber e nascer. É a vida em contínuo processo de nascimento, de transformação.

O Natal como protótipo da vida é transformação. O homem ainda não acabou de nascer, continua em processo. Depois da escuridão abdominal custa-lhe a saída da vagina e o encarar a luz do mundo. Por isso recalca o nascimento vivendo da fuga ao sangue e à dor. Procura o oxigénio longe de si quando a realidade do nascimento é o processo contínuo e presencializador da vida. Nunca estamos acabados. A tragédia é a fuga em que nos colocamos no escape ao estranho do acto de nascimento incompleto. Somos Jesus inacabado a caminho do Jesus Cristo. Assim uns fogem do universo ventral para o universo espacial, outros fogem deste, numa tentativa regressiva de retorno ao ventre materno. Tudo a correr.

Viver como contínuo nascente como tornar-se homem em contínuo processo de nascimento.

Deus nasce /morre na incarnação. Jesus, por sua vez, “gerado, não criado” continua na unidade divina, vive/morre na ressurreição.

A mística natalícia quer recordar a contínua encarnação de Deus, o contínuo nascer e dar à luz. O Natal chama o ser humano a tornar-se Jesus Cristo. Deus quer nascer em cada um de nós, para isso teremos que nos tornar mulher, Maria, que dá Jesus à luz. O desenvolvimento, a salvação já aconteceu e continua a acontecer na cristificação das dores do mundo a ser dado à luz. Deus torna-se homem para que o homem se divinize e divinize o mundo. Deus vem ao mundo e o mundo vai a Deus como já foi realizado em JC no eterno natal. Tudo isto não só no sentimento mas na realidade.

António da Cunha Duarte Justo

sábado, 22 de dezembro de 2007

Presentes de Natal – Uma Tradição a Descobrir

Significado dos Presentes

A tradição dos presentes de Natal assenta na recordação dos reis magos que oferecem ao Menino ouro (símbolo da fé), incenso (símbolo da adoração a Deus) e mirra (símbolo da transitoriedade e da eternidade). O texto de Mateus descreve o ritual dos reis magos que seguem a Estrela de Belém para adorarem o rei dos judeus. Já então toda a terra olhava para Belém. Até o próprio Buda já tinha previsto a era cristã. Seiscentos anos antes Buda disse para o seu discípulo Ananda: “Quinhentos anos, Ananda, quinhentos anos existirá a doutrina da verdade. Então diminui a fé até um novo Buda aparecer e, de novo, colocar em movimento, a roda da doutrina da verdade”. Interessante é o facto de, além do Antigo Testamento, também Zaratrustra ter preanunciado a vinda dum salvador.

No centro do acontecimento natalícia estava a celebração da missa do galo. Com o tempo foi-se estabelecendo o costume de oferecer presentes aos pobres; já na Idade Média os patrões ofereciam, pelo Natal presentes extra, como roupas, aos seus criados. Assim se recordava os começos simples de Jesus e se fortaleciam os laços entre servidores e servidos. Os presentes eram dados aos necessitados e às crianças.

Desde o século 19 foi-se impondo a tradição de se dar um ordenado extra aos trabalhadores, no mês do Natal. Daí surgiu o décimo terceiro mês de ordenado.

Só a partir dos meados do século XX se alargou a tradição de os adultos se fazerem ofertas natalícias uns aos outros. O aumento do bem-estar económico e a infantilização da sociedade terão sido os motivos base desta inovação, segundo a opinião de especialistas. Entretanto o comércio apoderou-se do acontecimento tornando-se ele no maior prendado.

Antes já era motivo de grande alegria uma mesa bem recheada, e se algum desejo mais havia era o de uma caneta para a escola ou um fato novo para estrear...

Quando eu era pequeno, lá no vale de Arouca, ainda era o menino Jesus que trazia os presentes pela chaminé e os colocava nos sapatos, nesse dia colocados à lareira. A nossa fantasia de criança andava toda ela numa ansiedade excitada, numa alegria prévia do que o Natal nos tinha para dar. Era um acontecimento que envolvia desejos de crianças e planos de adultos, num irmanar de esperanças comuns.

Como referia, naquele tempo ainda era o Menino Jesus, pessoalmente, que colocava as prendas no sapatinho. Mais tarde eram postas na árvore de natal. Entretanto os presentes tornaram-se tantos e tão grandes que se passou a colocá-los debaixo da árvore de natal. O presépio e a árvore de natal permanecem enfeitados até à festa dos Reis, a 6 de Janeiro.

Hoje as pessoas já têm tanta coisa supérflua que se torna numa cruz a escolha duma oferta no carrossel dos desejos sempre mais passageiros tal como o gozo que os acompanha. Actualmente, apesar da enxurrada das prendas, o prazer da criançada não é maior do que a alegria das crianças de outrora, pelo contrário...

A oferta tem o seu valor em si, revela a amizade do dador e o desejo de fortalecer e manter as relações. O acto de oferecer implica a ocupação e preocupação com e pelo outro. A oferta fala do prendador e do prendado. Também nela se podem esconder preconceitos. As crianças oferecem de boa vontade sem olharem ao preço, o que conta é o gesto. O dar fortalece também a autoconfiança, a auto-estima, além de fomentar a benevolência e a gratidão. “Dar é melhor que receber”, diz a Bíblia. Por detrás da oferta está também a elevação do próprio estatuto.

A prenda é um símbolo da amizade, do amor e quer testemunhar proximidade. Naturalmente que os melhores presentes são as prendas que não prendem…O presente também pode ser um acto de suborno ou de hipocrisia. Facto é que o presente, além de querer mostrar reconhecimento, mantém o dador na memória. Pelo menos ao limpar-se o pó recorda-se o doador.

A tradição das prendas é um costume muito positivo. Com uma oferta constroem-se pontes.

Como ritual tem a vantagem e a desvantagem inerente aos rituais, mas sem os quais a vida deixaria de ser humana.

Oferecer não constitui obrigação mas obriga a uma reciprocidade. Seria uma afronta não aceitar um presente.

Quando se tem tudo fica a satisfação do outro ter pensado em si e a gratidão. As prendas tornam as pessoas gratas e activam a memória.

É um bom costume, especialmente na época natalícia, não só a consciencialização da necessidade do outro, com o costume caritativo de se recolherem dádivas para os mais necessitados. Este foi o início da solidariedade social. Apesar dos perigos inerentes a qualquer acto humano e ao alarido dos Velhos do Restelo em relação ao Natal, há muito bem partilhado nesta época natalícia.

Donativos, dádivas não são presentes porque não têm como objectivo fomentar uma relação, demonstram porém o sentimento de pertença noutras esferas do ser e do estar aqui.

O costume de se fazerem presentes testemunha uma acção cultural nobre que tem como pressuposto uma consciência profundamente humana baseada na necessidade de se relacionar.

Com o Natal, o relacionamento ganha uma qualidade nova.

António da Cunha Duarte Justo

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Defesa do Clima – Conferência em Bali


O Exemplo da Alemanha


De 3 a 14 de Dezembro de 2007, 192 países reuniram-se em Bali para negociarem as medidas preventivas a tomarem em relação às emissões de gases estufa (Anidrido Carbónico e Metano).

Foi decidido continuar-se as conversações, a serem encerradas até 2009 para melhor se poder preparar a época a regular depois do Protocolo de Kyoto, que é válido até 2012; há a intenção de reduzir os gases estufa até 2020 entre 20 – 40 % do nível de emissão atingido em 1990; a ajuda aos países pobres com tecnologias mais benéficas ao clima; foi determinado o objectivo de ajudar estes países com a criação dum Fundo com 300 a 500milhões de dólares.

Muitos países, em via de desenvolvimento económico, exigem compensações para não arrotearem as florestas e assim continuarem a contribuir para a manutenção dos pulmões verdes da natureza e da humanidade.

Segundo estudos as consequências desastrosas da mudança de clima atingirão os países mais pobres. Segundo as previsões do Conselho Mundial do Clima, o Nordeste Brasileiro e o Sul da África serão as zonas mais atingidas pela aridez; em Bangladesh as zonas costeiras serão mais frequentemente inundadas.

A Alemanha é o país mais avançado na defesa do clima e na tecnologia para a redução de emissões, por isso torna-se evidente a sua luta em defesa do clima a nível mundial. Os alemães anteciparam-se aos outros povos no avanço tecnológico: um povo muito crítico e internamente sempre a lamentar-se, mas, talvez por isso, sempre no cume do desenvolvimento. Até 2020 terão conseguido uma redução de emissões de 40% em relação a 1990. Até 2005 já conseguiram uma redução de 16%. Também eram dos que sofriam mais, se pensarmos na cintura do Reno que sofria muito da poluição.

Cientistas alegam que os habitantes das cidades são responsáveis por três quartos das emissões mundiais.

Metano terá uma acção 21 vezes mais nociva que o Anidrido Carbónico. A digestão das vacas produz grande quantidade de Metano contribuindo, os ruminadores, em 18 % dos gases poluidores. O trânsito contribui com 17%. As centrais eléctricas, movidas a carvão, produzem uma poluição de 40% do Anidrido Carbónico emitido.

Sem pão não há moral. Por isso surge a necessidade de investimentos segundo princípios ecológicos, sociais e éticos. Quem terá de pagar a factura será o povo. A defesa da qualidade de vida terá que se preocupar com a compatibilidade entre tecnologia e clima bem como com a compatibilidade social e ética.

Uma mentalidade consumista e accionista, que está na base da exploração da natureza, são o pior inimigo do clima. A manipulação do homem, em via, com o medo e com os mecanismos da economia e o sistema de impostos pesados não parece honesta.

Aquecimento da Terra

Os cientistas, a nível mundial contradizem-se na apreciação das consequências dos gases estufa sobre o clima do futuro. Uns argumentam que as consequências da acção do homem sobre o clima serão catastróficas; outros afirmam que não há influência relevante e que toda a conversa em torno do clima é negócio com o medo e a maior mentira histórica a constatar no futuro.

A mudança do clima devido à acção do homem é reconhecido na consciencia geral e através do prémio Nobel para o tema Mudança de clima e para a necessidade de política e ciência se darem as mãos, dado a política só pensar numa perspectiva de quatro anos, o tempo da legislatura.

O tema pela sua ressonância e atendendo ao substrato humano medo promete grande capital não só a nível político para poderem sobrecarregar a energia com novos impostos como para o negócio económico.

As guerras do futuro dar-se-ão em torno da energia. Se se quer evitar dependências desastrosas, bem como guerras do futuro, a alternativa é investir em energias alternativas.

António da Cunha Duarte Justo

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Regionalização – Um Dever na Nova Europa


Representações Políticas mais Pragmáticas e Úteis

A situação actual

O modelo administrativo vigente em Portugal é centralista, fomentador das desigualdades regionais periféricas e emperradoras do processo de modernização e desenvolvimento.

Os 308 municípios vivem bastante isolados, sem qualquer poder eficiente perante o Governo. Um planeamento de infra-estruturas moderno esbarra, muitas vezes, nas fronteiras concelhias. Isto possibilita abusos das superstruturas económicas e políticas, atendendo à impossibilidade de elaboração de projectos válidos coordenados que implicariam projectos e planos alargados. .

As cinco áreas regionais do turismo, em que Portugal está dividido, Porto e Norte, Beiras, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve, têm um carácter de gestão administrativa que não poderá servir de exemplo para uma política regional que se preze. À racionalização e modernização da administração pública deve preceder a divisão político-administrativa do país.

O “Tratado de Lisboa” regulador da União Europeia, ao incluir a possibilidade das regiões interferirem directamente no processo legislativo terá como consequência uma maior organização e consciência regional. Só as regiões bem organizadas e fortes terão hipótese de fazer valer os seus interesses. Deste modo cada Estado tem dois instrumentos de intervenção em Bruxelas, através do governo central e das regiões.

Nos países desenvolvidos há sempre uma concorrência entre o centralismo e o regionalismo. Em Portugal, sempre encostado ao modelo francês, não dá possibilidade de a província se articular devido à sua contínua sangria. Em Portugal o centralismo já clássico tem sido um factor de atraso da “província” e assim o atraso crónico de Portugal. Embora o povo mostre grande capacidade de adaptação e de modernização as elites não têm conseguido persistência nem ideias condutoras. A multicoloridade e a diferenciação paisagista regional deram lugar à monotonia das cores ideológicas.

Aspectos positivos da Regionalização

O centralismo tem acentuado a injustiça e o atraso de Portugal. A nível histórico, Portugal sabia, no início da organização nacional manter a diferença salvaguardar os interesses económicos e os biótopos culturais através de representações políticas incardinadas no povo e na cultura, na região e não na ideologia. Além do país adquirir mais força de pressão em Bruxelas, o mais importante seria o facto de as regiões adquiririam maior competência cultural, legislativa e económica, como se pode verificar em países mais desenvolvidos. O poder estaria mais perto do cidadão. As Câmaras Municipais demasiadamente limitadas nas suas visões e planos seriam obrigadas a concepções e planificações supra-regionais mais alargadas e mais eficientes para a população. Possibilitar-se-iam sinergias e uma racionalização modernizadora das administrações locais.

A região adquire mais força.

A regionalização implicaria mais democracia, mais força municipal / regional e capacidade para se poder impor perante o Governo Central impedindo um dirigismo alienante dum estado que tem sugado a província em favor da macrocefalia, à custa da subserviência individual estrutural.

Portugal tornar-se-ia mais rico, mais justo, mais equilibrado e mais moderno.

Aspectos negativos da Regionalização

As propostas que até agora têm sido apresentadas à discussão pública contemplando a criação de cinco a dez regiões é mais cara e de carácter burocrática, além de fugir à solução do problema português.

Pode implicar mais, em certos casos mais burocracia e mais gastos. Naturalmente que, num momento em que o europeísmo se tenta afirmar, pode estar, por detrás da intenção política regionalista, mais que o interesse pelas regiões, o interesse em desmantelar o Portugal dos municípios para criarem um corredor político de Bruxelas até aos municípios, tal como já vão fazendo nas administrações. Neste sentido ganhariam as forcas dominantes económicas e políticas à custa da província. O sistema partidário ideológico e centralista receberia a oportunidade de tudo controlar desde a cúpula até à base, através duma rede coesa. Isto veria acentuar a prepotência partidária já existente que cada vez problematiza mais a eficiência do sistema democrático. Poderia assistir-se a um partidarismo ainda maior de todas as estruturas administrativas, tal como se observou após o 25 de Abril e ainda se constata hoje no Ministério da Educação, tendo-se a esquerda apossado praticamente de toda a administração educativa. O perigo do controlo centralista seria neste caso maior. Os problemas das benesses e do nepotismo, hoje vigentes nas estruturas centrais e locais, continuariam mas mais disseminados e impenetráveis.

O sistema de partidos vigente, com as suas obediências partidárias, acentuaria o conflito entre o interesse partidário e o interesse regional. Para se mitigar este mal teria de haver deputados das regiões com representatividade no parlamento, tal como acontece na Alemanha.

O facto de Portugal ser um estado uno a nível de povo, território e língua é uma vantagem mas que devido, ao desleixo do centralismo e à inexistência de concorrência entre regiões (porque não têm hipótese de verbalizar eficientemente os seus interesses), se tem revelado muito negativo para o desenvolvimento regional e nacional.

Pressupostos para uma regionalização oportuna

A discussão pública do problema deveria surgir do meio da sociedade, do empresariado médio e pequeno e das universidades.

A globalização pressupõe a integração das regiões geo-culturais, sem as destruir. Sou do parecer que uma regionalização séria e profícua para o nosso país não pode partir da existência de mais de 3 regiões autónomas continentais. Teria de seguir um modelo de autonomia com governo e parlamento regional. Sem autonomia regional a discussão não passa duma mascarada. Para isto basta seguir o exemplo da Alemanha, país bem organizado com grande peso das regiões na sua política e administração, que, por razões económicas e de eficiência, procura reduzir as suas regiões (16 estados). A boa integração das regiões no estado alemão irá ser um factor de grande importância para a defesa dos interesses alemães em Bruxelas, mas com que ninguém ainda sonha.

As divisões geográficas manteriam as actuais câmaras e em parte os actuais distritos com competências de administração directa a definir. Uma divisão em Região Norte, Região Centro e Região Sul, cuja delimitação se baseie no reagrupamento das antigas províncias, cada região com acesso ao mar, criaria garantias económicas de autonomia real. Isto pressuporia, naturalmente um sistema de compensação solidária entre as regiões, tal como é praticado na Alemanha com um transfer de capital das regiões mais fortes para as mais desfavorecidas. Poderia haver um agrupamento de governadores civis baseado no reagrupamento das antigas províncias. As três regiões autónomas, com presidente e parlamento próprio, obteriam força capaz de interferência real efectiva.

A regionalização provocaria o surgir de partidos regionais, já não baseados na ideologia mas nas necessidades concretas e específicas da região.

Antonio da Cunha Duarte Justo

sábado, 15 de dezembro de 2007

Salários Mínimos na Europa

Igualdade Intolerável

António Justo

Actualmente, dos 27 países da União Europeia, há vinte com salário mínimo oficial, determinado pelo Estado ou por convenções tarifárias. A Alemanha e a Suiça revelam grandes desníveis havendo ordenados tarifários de 3-4 Euros.

Consideram-se ordenados imorais quando estes salários correspondem a um quantitativo reduzido de 30% do que paga o Fundo de Desemprego / Social (650 euros + custas de habitação).

A argumentação de que salários mínimos oficiais aumentam o desemprego é falaz. O Luxemburgo embora tenha um salário mínimo de 9 euros por hora, tem uma quota de desempregados no sector dos trabalhadores de salário mínimo muito inferior à da Alemanha. Um salário irrelevante não incita ao trabalho.

Se consultarmos os dados estatísticos actuais da Fundação Hans Böckler verificamos que os salários mínimos oficiais actuais são muito diferentes de país para país. Assim o Luxemburgo tem um salário mínimo de 9,08 Euros por hora, a Irlanda 8,65, a França 8,44, a Inglaterra 8,20, os Países Baixos 8,08, a Bélgica 8,08, a Grécia 3,80, Malta 3,46, a Espanha 3,42, a Eslovénia 3,12, Portugal 2,41, a República Checa 1,76, a Hungria 1,51, a Eslováquia 1,46, a Polónia 1,43 e a Bulgária 53 Cêntimos.

O turbo-capitalismo é que toca a música

Na Alemanha não há salários mínimos para todos os sectores de trabalho embora o sindicato exija um salário mínimo geral de 8,10 Euros. Há sectores em que o salário é negociado entre patronato e sindicato sendo o salário mínimo só declarado por lei em casos especiais que tem a ver com a concorrência do estrangeiro no país. Assim quando na Alemanha apareciam muitos empreiteiros de obras portugueses, espanhóis, polacos concorrendo com empreiteiros nacionais a Alemanha criou a lei do salário mínimo para este sector. Assim tornou quase impossível a concorrência.

É sintomático o proteccionismo que está subjacente ao salário mínimo determinado pela lei alemã para casos específicos, precisamente para os sectores das obras e dos carteiros dos correios. Deste modo a Alemanha dificultou a concorrência estrangeira, impedindo mesmo a ocupação de firmas estrangeiras nas obras em território alemão (para este caso a concorrência de países com salários muito baixos é impedida em nome da moral). Na Alemanha há muita gente a trabalhar a quatro - cinco euros à hora. Estes não precisam de protecção porque se trata de exploração intra muros.

Agora, a legislação que fixa o salário mínimo para os carteiros entre 8 (para a zona da antiga Alemanha socialista) e 9,80 Euros (para a zona ocidental) vem favorecer o monopolista “Correios Alemães” perante a concorrência de firmas privadas. Os Correios alemães são assim subsidiados indirectamente e preparados para o combate no estrangeiro. (O mesmo tem feito Portugal dando oportunidade às grandes empresas para a exploração da energia foto-voltaica, não a disponibilizando ao cidadão normal!).

Também isto é Europa: medidas proteccionistas e determinação de salários mínimos em caso de concorrência estrangeira. Na defesa do egoísmo nacional todas as forças da nação se tornam solidárias. Os tempos correm bem para os monopolistas. Cada um, à sombra de leis elásticas, procura puxar a brasa à sua sardinha. Na política a esperteza ultrapassa a inteligência. Às vezes, a pobreza dos países marginais traz vantagens: poupa as funções cerebrais! O problema torna-se apenas estatístico…

Quando o Estado interfere no mercado de trabalho e determina ordenados mais elevados aumenta o desemprego, diz o patronato e os liberais. Naturalmente que o patronato não está interessado em salários mínimos porque sabe que salários de miséria são complementados pela assistência social do Estado, dando-se assim um subsídio indirecto às firmas.

O turbo-capitalismo tem como aliado os estados que actuam contra a camada social média e favorece salários de miséria, para a plebe, que não chegam para a sobrevivência. Com salários que não chegam para a sobrevivência a Alemanha consegue ter mais gente empregada e tornar as estatísticas a nível europeu mais jeitosas. Todos os países europeus têm um medo das estatísticas que se pelam. Isso os parece mover, não a situação dum povo, cada vez mais pobre. O sistema social europeu cada vez tem menos a ver com a responsabilidade social para o indivíduo isolado. A estratégia parece ser, nivelar a pobreza europeia com a pobreza do terceiro mundo e assim evitar concorrência nos andares superiores da sociedade mundial.

O salário mínimo tem que permitir a uma pessoa garantir um rendimento que assegure, pelo menos, o mínimo para a existência. Na Inglaterra a economia floresce apesar de salário mínimo elevado em contrapartida na Inglaterra pode-se despedir sem dificuldade os empregados.

Na Europa o egoísmo atinge níveis insuportáveis: cada um vive para si sem se preocupar com o que acontece ao lado. Que sociedade é esta em que um gestor tem um vencimento com que se poderiam alimentar 2.000 famílias com cinco ou seis membros?

A igualdade torna-se intolerável se uns se assenhoreiam descaradamente das fontes da riqueza e da reputação enquanto que os outros ficam a ver navios ou a chupar no dedo. Política e economia agem contra a coesão e a cultura social. Não se pode justificar uma sociedade de ricos insaciáveis à custa do alargamento da pobreza e do enfraquecimento da classe média.

O turbo-capitalismo é que toca a música e tudo dança ao seu ritmo. A Europa já foi Europa e o seu futuro parece já ter sido atingido no seu passado.

António da cunha Duarte Justo

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Defesa da “Açorda Alentejana” e dos Pratos do Dia


Tratado de Lisboa –Auto-responsabilidade Comunal

Um ponto importante no Tratado é o facto de vincular, para cerca de 500 milhões de cidadãos, o direito à liberdade de consciência, de opinião e de religião, além da protecção da vida pré-natal perante investigadores sem consciência. Com todas as reservas inerentes ao sistema pode-se afirmar que a Europa é um Oásis em comparação com o que vai por esse mundo fora. O desejo europeu de criar paz sem armas e a defesa da natureza e dos direitos humanos são coordenadas fundamentais que, por vezes, nos dão confiança num mundo que tem sido tão maluco. Pode ser que as boas intenções europeias frutifiquem na Europa e no Mundo.

A capacidade racional e de eficiência que animam o Tratados de Lisboa certamente que não entusiasmará os cidadãos europeus.

A auto-responsabilidade comunal determinada no Tratado de Lisboa abre possibilidade às regiões (estados federados e comunas) de assumirem responsabilidade e de interferir na feitura das leis. Deste modo as comunas e estados federados poderão também eles interferir nas investidas de Bruxelas contra os interesses regionais. É-lhes dado um prazo de oito semanas para poderem intervir e assim defender as suas regiões de legislação centralista, muitas vezes prejudicial para as regiões. Isto supõe grande capacidade de organização. Uma situação que deveria levar Portugal a organizar-se em três regiões político-administrativas. Doutro modo, os estados mais organizados ganharão duplamente com esta possibilidade dada às regiões.

Assim se dá um pouco de co-determinação às bases. O centralismo europeu, se não for condicionado pelas regiões, tornará a Europa cada vez mais estranha e distante do povo. Até os elementos emocionais como, hino, bandeira foi tirado à Europa.

É tempo de impedir a prepotência de Lisboa contra o Norte

Se as regiões quiserem sobreviver têm que se insurgir contra a rasoira europeia que tudo quer controlar até ao mais íntimo. A açorda alentejana, os bons vinhos regionais e outros produtos que tornam Portugal tão pitoresco e individual serão banidos como já acontece à sombra de políticos que atraiçoam os biótopos naturais regionais gastronómicos e culturais. Eles só querem produtos de “produção controlada” para lá irem buscar mais impostos e assim indirectamente quererem acabar com o prato do dia nos restaurantes e impedir a sobrevivência do pequeno agricultor. Lisboa impõe-se contra o Norte.Se não estamos atentos, tudo o que cheire a província, a campo, a povo é excomungado por um centralismo ditador. Isto pressupõe um estado polícia. Não podemos permitir que os políticos centralistas venham cuspir na nossa sopa e no nosso prato do dia, para em nome da qualidade, nos meterem a mão na bolsa e obrigar-nos, a nós povo, a uma alimentação à MacDonald’s, como já estão a tentar fazer.

Na falta de políticos centrais à altura, as regiões terão de adoptar pela desobediência civil.

António da Cunha Duarte Justo

O „Tratado de Lisboa“

Belém – Lisboa um Ponto de Referência da Europa


Ontem, 13 de Dezembro, os 27 chefes de Estados e governos da Unia Europeia assinaram festivamente o Tratado de Lisboa que corresponde a uma cura de emagrecimento relativa ao sonho futurista do Tratado Constitucional chumbado por plebiscito. Assim, depois das prolongadas dores de parto, não foi dado, à Parteira Merckel, o prazer de ser dado à luz, na sua presidência, tão desejado filho. Este veio nascer no Convento de Belém, na presença dos grandes reis magos representantes das nações. Assim nasceram em Belém dois gémeos que vão determinar o futuro da Europa: o “Tratado sobre a União Europeia” e "Tratado sobre o Funcionamento da União". A Europa levanta as velas em Belém rumo ao Futuro.

A honra e o prazer é dada à presidência portuguesa da EU na pessoa do nosso Primeiro-ministro, que se mostrou um bom parteiro, embora as dores pré-natais as tenha tido, na sua grande parte a Chanceler alemã, Ângela Merckel. Portugal está de parabéns!

A não rectificação do Tratado Constitucional de Roma (29 de Outubro de 2004) pelos plebiscitos Francês e dos Países Baixos, em 2005, obrigou os políticos da UE a abdicar da ideia duma Constituição para elaborarem um documento menos ambicioso de modo a poder ser rectificado, sem necessidade de plebiscito, na França, Inglaterra e Países Baixos. Resta a incógnita irlandesa dado aí ser obrigatório fazer plebiscito.

Segundo o Tratado de Lisboa, que entrará em vigor em 2009 depois da rectificação pelos Estados membros, a UE passará a ter um presidente em exercício por dois anos e meio (não mudando de seis em seis meses como até agora).

A nova "maquilhagem" política exige, para a função do Ministro dos Negócios Estrangeiros, já não a designação de "Ministro dos Negócios Estrangeiros da União" mas sim a de “Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança”.

A Carta Europeia dos Direitos Humanos constitui base jurídica para todos os países com excepção da Inglaterra e da Polónia. A Inglaterra conseguiu para si a excepção do seguinte teor: "A Carta não alarga a capacidade do Tribunal de Justiça, ou qualquer tribunal do Reino Unido, para considerar que as leis, os regulamentos ou as disposições, práticas ou acções administrativas do Reino Unido são incompatíveis com os direitos, as liberdades e os princípios fundamentais que nela são reafirmados." Também os representantes da Polónia conseguiram para o seu país a seguinte adenda: "A Carta não afecta de modo algum o direito dos Estados-Membros de legislar em matéria de moralidade pública e direito da família, bem como de protecção da dignidade humana e respeito pela integridade física e moral do ser humano."

A partir de 2017, nas votações passa a valer a dupla maioria: 55% dos estados e 65% da população da União têm de estar de acordo. O Parlamento europeu passa a ter 750 deputados com direito a voto, dos quais 99 da Alemanha (20% dos custos da comunidade são suportados pela Alemanha). A partir de 2014 cada país membro deixa de ter direito a ter um comissário reduzindo-se o número para dois terços dos Estados da UE. Parlamentos nacionais têm direito à possibilidade de protestar contra projectos de leis da EU. Também as comunas podem fazer pressão na feitura das leis europeias.

Na redacção dos documentos são abandonadas as denominações "lei" e "lei-quadro" previstas, para se manterem as actuais denominações "regulamentos", "directivas" e "decisões". Deixa também de haver referência à bandeira, ao hino, ao lema, à moeda e ao Dia da Europa como queria o Tratado Constitucional falhado.

A unanimidade continua a ser a regra para a política externa, a fiscalidade, a política social, os recursos da UE e a revisão dos Tratados

António da Cunha Duarte Justo

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

FILHO COM TRÊS PAIS


Em Aschaffenburg, Alemanha, uma senhora de 64 anos deu à luz uma criança. A, agora, mãe submeteu-se à implantação dum óvulo, no estrangeiro, dado na Alemanha ser proibida a oferta de óvulos.

A criança recém-nascida tem três pais: o pai que pôs à disposição o esperma, a mãe genética que ofereceu o óvulo e a mãe portadora da implantação durante os nove meses. No sentido da lei, esta última é que é considerada mãe. O estranho do caso é que a criança teria quatro pais se o oferecedor do esperma não tivesse sido o esposo da mãe portadora que se submeteu à implantação.

Na Alemanha é permitida a oferta de esperma mas não de óvulos dado a oferta de óvulos implicar riscos de saúde para a mulher oferecedora que tem de ser submetida a tratamento hormonal, além de corresponder à instrumentalização da mulher, ferindo a sua dignidade humana; além do risco da comercialização.

A Alemanha advoga razões éticas para não permitir a praxis da oferta de óvulos.

Naturalmente que há mulheres que perdem a capacidade de ter filhos devido à operação do ovário, cancro ou outras causas. Neste caso só teriam a oportunidade de engravidar através de implantação.

De facto a criança resultante duma implantação é filha da mãe genética. Um dia, a criança tem o direito de saber quem é a sua mãe genética.

Hoje, o problema da idade da mãe emprestada não se põe porque a longevidade das pessoas anda pelos oitenta-noventa anos.

O desenvolvimento da ciência é tal que em muitos casos a natureza já não manda. Quem manda é a necessidade individual e a força da bolsa.

A alternativa da adopção é mais humana. A implantação implica riscos éticos e político-sociais.

António Justo

Scientology – Contra a Constituição?

Os ministros do interior dos estados da República Federal Alemã e o ministro federal do interior pretendem alcançar a proibição da Organização Cientology.

Todos os ministros mostram a convicção que Cientology, além de objectivos contra a constituição, segue objectivos totalitários, como declarou, na Sexta-feira passada, o presidente da conferência dos ministros do interior, Ehrart Körting (SPD). Numa primeira fase pretendem a recolha de informações a nível central com o objectivo de elaborar um possível processo para a proibição da Associação.

Sientology é acusada de ser uma seita que pretende o status duma religião mas que recusa o sistema de direito democrático, encontrando-se nos seus escritos passagens difamadoras da democracia; além disso, muitos membros dissidentes sofrem perseguições

As informações dadas por antigos membros confirmariam as tendências da organização contra a dignidade humana e contra o direito ao auto-desenvolvimento, que são anulados através de técnicas psicológicas manipuladoras.

Segundo o Ministério Federal para a Família, a doutrina cientológica leva “frequentemente à dependência psicológica e económica”.

O fundador da seita, Ron Hubbard, terá criado com a sua doutrina, um plano totalitário para um novo homem. Um ser humano que deve renunciar à individualidade, liberdade e bens em benefício duma seita que quer minar por dentro os valores fundamentais duma sociedade livre.

Na Alemanha, na opinião pública, Scientology é considerada como uma psico-seita orientada para a maximização do lucro, sem escrúpulos, à caça de almas e que explora e intimida os seus membros.

A organização tem 6.000 membros na Alemanha, o que não justificaria “apontar com canhões contra pardais”. Como em grande parte das discussões públicas, o rubro da discussão pode não passar dum populismo barato.

Infelizmente, a nossa sociedade de fé democrática, cada vez se vê mais na necessidade de se afirmar falando mal dos pretensos adversários sem uma discussão séria sobre os diferentes assuntos e doutrinas. Não é saudável o ataque ao fascismo de organismos como o da Scientology e por outro lado justificar-se o fascismo religioso islâmico. Dois pesos, duas medidas.

Tenho a impressão que o que motiva o apelo ao perigo da Scientology é mais o medo dos estabelecidos no poder perante uma organização que se dirige inteligentemente às elites. E o que leva os mesmos a encobrir o perigo fascista islâmico é o medo dum povo bem informado que lhes poderia estragar o negócio multicultural.

Parece vivermos no mundo em que a ordem do dia é: lavagem ao cérebro do outro, cada qual à sua maneira! O povo indefeso e incauto é sempre o menino sujo a ser lavado.

António Justo

Eutanásia


Políticos alemães e representantes das igrejas manifestaram-se veementemente contra a intenção da associação suíça para a eutanásia “Dignitas” querer criar um caso precedente de eutanásia na Alemanha. O porta-voz do SPD no parlamento Alemão afirmou:” Nós acabaremos com a das treiben actividade de Dignitas na Alemanha”.

É desumano fazer-se negócio com a morte de pessoas muito doentes. Na Alemanha a prática activa e comercial da eutanásia é contra a Constituição.

Assim como o homem foi lançado à vida sem própria intervenção, o mesmo deve acontecer na morte. O paciente, ou moribundo têm um direito ao apoio e acompanhamento na doença e na morte mas não na intervenção directa.

Importante é alargar a medicina paliativa e incentivar uma cultura da vida e não uma cultura da morte, como defendem e praticam as Igrejas nas suas instituições. Iniciativas tendentes a prolongar a vida devem ser interrompidas no caso de impedirem uma morte cruel.

Os nazis praticavam a eutanásia com pessoas que consideravam de vida indigna ou inferior. Numa sociedade que cada vez envelhece mais e o respeito para com os idosos diminui facilmente se passa a “sanear” dado a nossa vida, entretanto, só ser considerada sob o ponto de vista económico, como refere o bispo evangélico Hein. A solidariedade continua presente na sociedade.

António Justo

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Economia e Política – Recusa à moral

Ordenados à Margem de Critérios Justos


Segundo o que corre nos jornais alemães, o chefe da Continental ganha 4 milhões de Euros por ano; o chefe da Porsche, 54 milhões e os seus outros cinco colegas da direcção um total de 58 milhões.

As pragas do Egipto, a que se refere a Bíblia, cada vez avassalam mais a terra europeia. A sapata popular precária aumenta vendo a vida encarecer, tendo de trabalhar mais sem qualquer compensação, enquanto que as elites económicas e políticas aumentam usurariamente os seus vencimentos. Em nome da Europa e do turbo-capitalismo passou a reinar a desmedida. Sofrem da mesma doença contagiosa os beneficiados do sistema tanto nos países pobres e como nos países ricos.

O presidente da Alemanha não se cansa de admoestar a política e a economia dizendo que não é lógico os vencimentos destes aumentar continuamente e o ordenado do povo diminuir.

Na Alemanha, todos os partidos se manifestam criticamente sobre os elevados vencimentos de direcções das grandes multinacionais. O tema está na ordem do dia da sessão parlamentar de hoje.

A Alemanha não quer impor por lei um limite para as direccoes de empresas mas pretende com a discussão provocar decência na avareza que grassa na Europa a nível das oligarquias empresariais. A própria Chanceler Ângela Merckel, do partido cristão democrata declara a discussão salutar. Pretende regular por lei as indemnizações atribuídas a chefias, por falência. Maus administradores que levam a empresa a concurso não devem ser premiados com indemnizações que o contribuinte depois tem de pagar. Há manager que ganham somas horrendas levando empresas à falência, muitas vezes em benefício de interesses particulares dúbios.

A sociedade perdeu a medida, o equilíbrio e o critério; destruiu a virtude abolindo o meio-termo; já não se reconhece uma correspondência entre o trabalho realizado e o pagamento. Alguns parecem transformar-se na praga dos gafanhotos sobre os países, sobre o povo. Os gafanhotos destruíram a moral e Deus para que o povo se não possa agarrar a nada, sem possibilidade de se alinhar na busca da libertação, como fez o povo judeu. Ao ser reduzido a proletário deixa de ter qualquer projecção, a não ser a mercantil ou partidária de horizonte ofuscado.

Um director das grandes multinacionais e de grandes empresas não deveria receber um ordenado superior a 20 vezes o ordenado da criada de limpeza ou do trabalhador mais simples. Se recebesse mais, esse dinheiro deveria ser tornado disponível para fundações ou iniciativas caritativas e culturais.

Se o povo não acorda em breve pagará imposto pelo ar que respira

A relação entre liberdade empresária e bem comum têm que estar numa relação de equilíbrio.

Naturalmente que aqueles que se habituaram a usar-se da sociedade como self-service, o conceito de justiça, se existe, é elástico.

Um Estado que tal permite torna-se cúmplice e ao mesmo tempo instrumento de legitimação para os mais fortes. Através da legislação do salário mínimo o Estado já se desobriga da injustiça a que dá cobertura. As leis do mercado precisam duma ética baseada no bem-comum e na terra que é de todos.

A ganância e a desvergonha atingiu tal ordem que qualquer dia um esperto lembra-se de mandar patentear o ar e teremos todos de pagar imposto para respirar.

Os defensores deste sistema de injustiça ordenada argumentam com o curso das acções como a medida do sucesso e que fazem parte da economia mundial, como se o trabalho fosse só deles; o trabalhador não faz parte da economia mundial! Têm a descaradez de falar da inveja dos pequenos quando o que recebem a mais é tirado à folha do assalariado. As chefias de empresas argumentam também que quem determina os seus vencimentos é o Conselho Fiscal das firmas onde têm assento o patronato, os sindicatos e, em grande parte, o Estado através dos partidos. Esquecem-se de dizer que estes quando não dormem se servem sobejamente do sistema. Uma mão lava a outra!...

A lei alemã que, obriga as empresas a pôr a público também os ordenados das empresas privadas, veio criar mais transparência no sistema a partir de 2005. Daí a discussão.

O sucesso das empresas e da bolsa adquire-se no poupar na produção, nos trabalhadores. Estes devem contentar-se com pouco e aguentar com as consequências, também as da má administração. Conseguem lucros através de despedimentos e de maior produtividade e contenção ou diminuição de ordenados dos jornaleiros.

A especulação na bolsa acontece longe da realidade, sem consideração pelos pequenos, em favor do lucro. A explosão dos vencimentos das elites dá-se mais nos segmentos industriais notados na bolsa, onde reina o turbo-capitalismo desumano. Estes turbo-capitalistas desacreditam muitos chefes das pequenas e médias empresas, que se vêem com grande dificuldade, numa concorrência desleal.

Geralmente os milhões da bolsa são ganhos à custa de valores humanos deitados ao caixote do lixo capitalista e dos lugares de trabalho das empresas. O povo do rés-do-chão é despedido e os dos andares superiores recebe indemnização por levar a empresa à falência. Não querem que a política se intrometa para continuarem a ter a estrada livre só para eles. E o Zé político se quer manter o lugar tem que lhes ceder para receberem em contrapartida uns lugarezitos de trabalho precário para o povo.

Até quando? Não será a altura de surgirem os Zés do telhado? Não. O povo é como o macaco e os que o dirigem e representam, apesar de tudo, não vivem mal!... Ao povo resta-lhe a consolação de poder esperar no vota!

António Justo

Ser Mãe - A nossa natureza mais profunda

Nascimento – Deus é Mãe

O nascimento de cada um de nós é um acontecimento único e inconfundível, uma nova abertura a toda a possibilidade, uma abertura mãe, também ela com a possibilidade de dar à luz. Para isso é preciso a capacidade de, também nós homens, assumirmos a feminidade. Com a primeira experiência da gravidez, da paternidade surge uma meta, uma criança. Depois da criança nascida vem a preocupação por ela, a atenção. A nova situação fomenta novas forças de entrega e dedicação e um outro sentido pelos outros. Tudo passa a ser diferente, um novo estilo de vida centrado no outro.

A capacidade da gravidez e a constância prepara-nos para a abertura confiante, a experiência do integral, do sagrado.

As dores do parto são um sinal duma presença. Deus não conhece o passado nem o futuro. Ele está sempre a dar à luz. Deus puxa o homem do seu corpo mãe como uma parteira (Sal 22,10).

A sua actividade criadora é apresentada como um processo de dar à luz (Sal 90, 2 ). Deus, como a mãe parturiente possibilita o novo, a sua presença (Jes 42, 14).

Dados à luz por um microcosmo, dum ventre materno para o ventre terreno, o ventre do universo. De relação em relação

O nascimento liga-nos à criação e o dar à luz ao acto do criador. No parto se testemunha a necessidade da relação e do apoio duns e doutros. Seguimos de ligação em ligação, de começo em começo, no substrato da união profunda no Espírito. À desligação da mãe e ao corte umbilical segue-se a ligação à comunidade humana através do baptismo e do registo. É o início dum novo começo.

Precisamos, na arte na religião, do aprofundamento dos modelos de compreensão da vida num horizonte de compreensão vivo e aberto sem nos deixarmos enredar em preconceitos existentes.

“Tu és o meu filho, hoje te dou à luz” (Sl , 2, 7). Assim se legitima a maternidade divina e a nossa natureza de filhos e reis. Em Jesus dá-se a “democratização” da filiação divina a todo o ser humano e até ao resto da natureza. Com ele inicia-se a cristogenese do homem e do mundo.

A igreja é a garante da propagação da fé transmitida, a continuidade histórica, a recordação. Também ela gera devendo por isso manter-se sempre aberta ao Espírito. Não há vida sem mãe. Pelo milagre do amor Deus nasceu em Jesus!

Nascer e dar à luz são metáforas da vida que nos acompanham até ao seu outro lado que é a morte.

Deus deu à luz a Luz. Maria dá à luz a sua Luz. A mãe de Deus chora o seu filho crucificado agora no seu regaço. No mesmo seio, a vida e a morte, a incarnação e a ressurreição.

Em todo o processo existencial há um período da noite, da espera, um período da gravidez. A partir do 25 de Dezembro a noite é mais curta. “Eu sou a luz do mundo”(Jo 8,12).

António Justo

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Cimeira África-UE em Lisboa


Lei da cultura contra a lei da natura

Robert Mugabe, com 83 anos encontra-se desde há 27 anos à frente do Estado. No início foi o herói da independência do Zimbabué, transformando-se entretanto num autocrata opressor da oposição e sendo o responsável pela miséria de grande parte da população.

Embora a Europa o tenha declarado persona non grata, foi admitida a sua presença na cimeira de Lisboa, onde Ângela Merckel, no fim de semana passado, lhe deu um puxão de orelhas.

A Chanceler alemã, Ângela Merckel, falou, em nome da União Europeia, sobre o tema Direitos Humanos, referindo que”a Europa sofreu na pele, nos séculos passados, onde pode conduzir o desprezo dos direitos humanos: à ditadura, guerra e indescritíveis sofrimentos”. A Chanceler criticou a situação no Zimbabué afirmando que aquela condição prejudica a reputação da nova África: “Nós não devemos desviar o olhar quando direitos humanos são pisados com os pés.”

Mugabe tenta lavar as mãos, considerando a crítica uma intromissão nos assuntos internos do país. De facto ele tem medo de, ao ter de abandonar as rédeas do poder, vir a ter de responder no Tribunal Internacional dos Direitos Humanos pelas barbaridades cometidas.

A reacção de Mugabe mostra que ele não sabe lidar com crítica justa. Embora a Chanceler tenha falado em nome de todos os estados europeus, é atacada duma maneira pessoal, infame e brutal. O governo do Zimbabué através do seu ministro Sikhanyiso Ndlovu no jornal “The Herald” injuria-a de “ racista, fascista, reminiscência nazi”. “Ela deve fechar a boca e abalar. Zimbabué não é nenhuma colónia alemã, isto é o máximo de racismo dum chefe de governo alemão.” Mugabe tinha ultrajado a Alemanha, Dinamarca, Suécia e Países Baixos como “o bando dos quatro arrogantes”.

Por isto se vê que quem mais se empenha na defesa dos direitos humanos não recebe aplauso.

Merckel não costuma falar apenas “para inglês ver”. O ataque à Chanceler é um ataque a toda a União Europeia. O comportamento dum déspota não deve conduzir a reacções que castiguem o povo do Zimbabué.

A cimeira deveria agarrar nas mãos os problemas dos dois continentes, que só podem ser solucionados em comum.

O processo da colonização interna de África foi interrompido pelo interregno da colonização exterior. Esta não permitiu às forças e grupos internos alcançar a hegemonia interna. Por isso a situação em África vive dum passado interrompido. Sente a democracia e a defesa dos direitos humanos como uma imposição de fora, a imposição da lei da cultura contra a lei da natura.

É verdade que a Europa aprendeu tarde mas aprende dos erros que fez no passado. Só que os problemas do futuro dependerão dos erros que faz hoje!

António Justo

Crianças Vítimas


A Sociedade Machista e Sexista não suporta Mães nem Pais


Na Alemanha, especialmente na zona da antiga Alemanha democrática têm-se amontoado os casos de assassínios de crianças e doutros extremismos.

Um fenómeno raro mas que ultimamente tem aumentado é o facto de cada vez mais mães cometerem tal acto pelos mais diversos motivos. A sociedade tem de se perguntar porquê e tem de se preocupar mais com a protecção das crianças. Uma Europa, de espírito cada vez mais mercantilista, não pode nem quererá dar resposta às novas necessidades e exigências que cria. Cada vez se faz mais sentir a brutalidade que depois também se repercute nos elementos mais fracos da sociedade.

A semana passada, uma mãe, de 28 anos, em Plauen encontra-se presa por ter presumivelmente matado os seu três bebés. Esta mãe vivia bastante isolada; não se sabe ainda se ela matou as crianças ou se as deixou morrer à fome.

Também em Darry, uma mãe, de 31 anos, matou 5 filhos na idade entre 3 e 9 anos; a mãe, psiquicamente doente, julgando querer poupar as crianças à dureza da vida, anestesiou-as e depois matou-as.

Em casos conflituosos com a lei, muitas das mães e dos pais tiveram uma infância sem protecção e sem a possibilidade de interiorizar uma verdadeira atitude dos pais.

A política, em casos que agitam a população, reage, sem pensar nas causas, e discute a possibilidade da obrigação geral legal à visita regular ao médico de infância e, no caso de ausência, o médico ter de o comunicar à administração da cidade. Também no caso de maus-tratos os médicos deverão quebrar o sigilo. Alguns estados federais já regularam isto por lei. A política fomenta uma filosofia de vida egoísta e uma sociedade do arrume-se quem poder e no momento em que as consequências desagradáveis se tornam visíveis reagem com accionismo precipitado socorrendo-se de leis para distrair ou desviar a bola para canto.

A lei não pode ser a resposta à questionação que os problemas apresentam a este tipo de sociedade. Trata-se geralmente duma política simbólica e apenas de remedeio.

Além da necessidade da propagação geral dum verdadeiro humanismo nas relações laborais e sociais entre as pessoas e instituições, as vidas mais precárias com pobreza, problemas sociais e droga deveriam receber mais atenção e apoio.

Já há iniciativas que procuram ajudar mães jovens que, em casos especiais de situação de assistência social, precisam de apoio, recebendo, a partir do quarto mês até aos dois anos, um apoio com uma acompanhante de família que a apoia em todas as necessidades.

Assim, mães não motivadas para o ser, ou grávidas em dificuldade recebem um apoio fortalecedor para as mulheres e para as crianças. Esta será a melhor maneira de providenciar as visitas médicas regulares. Voluntariedade é melhor do que a obrigação legal de participar em observações médicas.

Na Alemanha procura-se remendar o sistema social com iniciativas como o “Projecto pró Criança” destinado a apoiar mulheres grávidas que se encontram sós, sem ajuda da família e, por vezes, sem uma ideia de como educar crianças.

A nossa sociedade despreza todas as convenções desvalorizando cada vez mais o papel da mãe e do pai. Estes são cada vez mais colocados a leste numa sociedade de espírito colonialista que pensa resolver os seus problemas de natalidade internos, que criou, com a importação, não de pessoas mas de forças de trabalho. Na política progressista, família é símbolo de empecilho e portando a desacreditar. Cada um vive para si sem se preocupar com o que acontece ao lado. Os pais assassinos, tal como as crianças, são vítimas duma sociedade que não tem lugar para eles. O nosso sistema social, entretanto, não tem nada a ver com a responsabilidade social da pessoa singular.

António Justo

domingo, 9 de dezembro de 2007

Natal – Tempo da Intimidade e da Tradição


Nos países nórdicos é impossível imaginar-se Natal sem velas em casa. O brilho confortável e privado das velas cria uma atmosfera familiar. Jesus, a luz do mundo, está mais ou menos presente em cada vela independentemente do credo que a acende.

Especialmente nestes países o período de Natal é a quadra da expressividade e da introspecção. A escuridão ambiental convida à sua compensação com o brilho das luzes e à descoberta da luz interior em contraposição à atmosfera depressiva, própria da estacão invernosa, e à margem do barulho do meio-dia. Nesta época os dias são mais curtos pelo que, ao entardecer, por todo o lugar a atmosfera sombria e deprimente é contrastada com um mar de luzes nos centros das cidades e pelos mais variados enfeites luminosos nas janelas das casas e nos jardins.

A época natalícia inicia-se com o primeiro dia de advento. Em todas as casas se tem à mesa a Coroa de Advento feita de ramo de abeto, com quatro velas. Começa-se por acender uma vela no primeiro domingo de Advento, duas no segundo e assim por diante. No dia de natal a luz torna-se mais intensa.

É geral o costume do uso dos calendários do Advento. As famílias compram ou elaboram calendários de advento com 24 portas, tendo em cada porta uma oferta, um chocolate ou outra coisa qualquer a tirar em cada dia que passa. A primeira porta é aberta no dia um de Dezembro. As crianças, de manhã ao levantarem-se, abrem um portal do seu calendário e recolhem a oferta, alegrando-se assim por mais um dia que as aproxima mais do dia de Natal.

Há calendários do Advento para todos os gostos e bolsas. Para adultos também há os calendários que põe detrás de cada porta escondem uma ideia importante. Não faltam até os calendários de advento para gatos e cães. O Menino Jesus veio não só trazer alegria e salvação para o homem mas também para toda a natureza, que comunga do seu ser.

Nos centros das cidades e das aldeias realiza-se a tradicional “Feira de Natal”. Por todo o lado cheira a canela, a ponche, vinho quente e outras delícias do olfacto e do paladar ascendentes das mais diversas tendas. Na feira bebe-se uma bebida quente, comem-se maçãs quentes com chocolate e outras guloseimas enquanto as crianças andam nos cavalinhos. Nesta feira encontra-se de tudo, além de figuras de lendas conhecidas há grande variedade de objectos e trabalhos manuais regionais relativos à época.

Em muitos lugares, estas feiras permanecem desde o primeiro dia do Advento até ao dia de Reis, 6 de Janeiro.

Por todo o lado, apesar do stress próprio destes dias, respira-se a emocionalidade, com concertos e encontros natalícios das mais diversas organizações. Assim, as pessoas, ao som de músicas natalícias, satisfazem a suas necessidades sensoriais e emocionais. É o tempo alto do coração.

No dia 6 de Dezembro vem o São Nicolau a todos os jardins-de-infância distribuindo ofertas que as próprias crianças anteriormente fizeram. No mesmo dia, à noite, as crianças e os adolescentes vão de porta em porta onde cantam ou recitam uma estrofe na esperança duma dádiva. Neste mundo fabuloso, o olhar das crianças ganha mais brilho, reflecte o bem, o brilho das velas e das estrelas.

Cada terra tem as suas especialidades próprias para a época natalícia. Junto a Fulda, Alemanha, no centro da cidade de Schlitz, há a tradição de se montar uma vela com 42 metros de altura que permanece acesa durante todo o Advento.

Aqui na Alemanha há uma tradição exemplar de, nas famílias, normalmente se usarem velas, velas de chá em invólucros avermelhados ou doutros tons de cor quente que, mesmo fora da época natalícia continuam a emprestar à atmosfera um sentimento de intimidade e de sensação agradável.

Nesta época a solidariedade é muito grande havendo iniciativas de ofertas para as mais diversas necessidades. Não se encontrasse Jesus escondido em cada um e especialmente nos mais necessitados.

Também se encontram, como é comum por todo o lado, os queixosos que se lamentam com tão amontoamento de sentimento.

Tradição Portuguesa

Da tradição portuguesa não falo porque pressuponho conhecida. Este ano, na Avenida dos Aliados, no Porto, os portuenses construíram a maior Árvore de Natal da Europa. Ela tem 76 metros de altura, 2,4 milhões de micro lâmpadas, 28.000 metros de mangueira luminosa e 500 metros de néon. Muitas das ruas do Porto encontram-se com decorações luminosas realmente artísticas e originais, onde se revê o grande espírito criativo português. É mais uma boa oportunidade para se visitar o Porto à noite.

António da Cunha Duarte Justo

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Democratas Cristãos Alemães – Programa Doutrinário

Programa do CDU da Alemanha – Um Exemplo para Partidos do Centro?


O Congresso do CDU da Alemanha, que acaba de terminar, teve como lema “O Centro”. A chefe do partido, Ângela Merkel, acentuou perante os 1000 delegados que só eles são o centro. “Aqui é o centro. Aqui no centro estamos nós e só nós”.

O CDU declara-se como um grande partido do povo, querendo atingir a grande maioria do povo alemão. Quer uma política temperada, baseada no consenso, contra a polarização e os extremos radicais duma esquerda e duma direita. O partido manifestou, por unanimidade numa resolução, manter-se na distância para com o partido da coligação SPD que não é fiel à própria Agenda. O SPD, com medo da concorrência dos irmãos socialistas mais extremistas (o Partido da Esquerda), tem optado por um caminho mais à esquerda que antes.

Merkel fala de participação e justiça manifestando a vontade de determinar em mais alguns ramos da economia salários mínimos, a exemplo do que foi já decidido para trabalhadores – os carteiros dos correios, com um salário mínimo entre 8 e 9,80 Euros à hora.

O partido manifesta a preocupação de dar resposta às necessidades do povo. Efectivamente por toda a Europa os estados e os aparelhos dos estados têm enriquecido enquanto que o povo tem empobrecido. O partido quer, através de inovação, ordenado justo, apoio de creches e jardins infantis e de apoio económico para o cuidado de crianças em casa, dar resposta ao eleitorado feminino e ir de encontro às necessidades da juventude. Por outro lado, quanto mais temas assume que antes eram temas do SPD. mais se distancia do tradicional parceiro de coligação, o partido Liberal.

A preocupação com as mudanças climáticas e a protecção do ambiente faz parte muito importante do programa, revela Merkel. A Chanceler critica os ordenados demasiado altos de muitos gestores de empresas.

Antes do Congresso agora realizado em Hannover, 34% dos cristãos democratas tinham o seu descontentamento com o trabalho da Coligação Governamental pretendendo a proibição de novas dívidas para o Governo Federal. Queriam ver assegurado um Rendimento Mínimo e o apoio estatal para os de rendimento diminuto. Negam a criação duma taxa para a formação profissional a pagar pelas empresas.

A chanceler alemã, Ângela Merkel, saiu mais reforçada do Congresso, mantém as rédeas do partido mais firmes que nunca.

Palavras-chave do novo Programa Doutrinário são: cristão, social, liberal e valores conservadores. Na base do Programa está a imagem cristã do homem da qual deriva os valores fundamentais de liberdade, solidariedade e justiça sem jerarquia. O objectivo social é a igualdade de chances na participação de bens e na formação. Espera-se dos imigrantes a afirmação da cultura envolvente. O casamento de homem e mulher permanece imagem padrão da sociedade. Família é definida como o lugar onde pais e filhos assumem responsabilidade mútua de uns pelos outros, incluindo-se também a união conjugal sem certidão de casamento. A bonificação fiscal (privilégios legais) limitada ao casamento deve ser alargada à família. O fomento de jardins infantis e dinheiro de apoio ao cuidado com crianças deve ser fomentado visto constituir uma oportunidade de autêntica alternativa de opção coordenando os interesses de família e profissão. No Programa é também acentuada o papel fulcral da formação. Um ponto principal é a protecção do clima e do ambiente. A energia atómica é vista como tecnologia ponte. Defende-se um imigração controlada com vontade de se integrar. É recusada a entrada da Turquia na União Europeia e acentuada a amizade com a USA.

O modelo social cristão e democrata cristão alemão podem servir de exemplo para uma política que combina e respeita as características culturais e históricas da Europa com as necessidades do povo.

António Justo

PISA 2006 – Péssimas Notas para Portugal


Um País para Inglês ver?


Os resultados da investigação Pisa, que se efectua de três em três anos, foram publicados. Eles servem para ver onde nos encontramos internacionalmente. De 50 países participantes qualificados, Finlândia ocupa o primeiro lugar, Indonésia o último e Portugal muito abaixo da média ocupa o lugar 37 da escala. Dos países da União Europeia só a Grécia e a Roménia obtiveram piores resultados.

Esta é a factura duma política de educacao mais preocupada com medidas populistas (e apenas interessada em resultados estatísticos tratados) do que com a aquisição de competências. Portugal cada vez ocupa mais a cauda dos países.

A nota que Portugal recebeu em termos de comparação de países corresponde a insuficiente. Se quisermos que se aprenda mais nas escolas estatais a primeira condição será despolitizar o ensino e dignificar o trabalho e os professores. Esta virtude não é própria da esquerda que orienta a rasoira da medida, não pela média, mas, pela mediocridade. O estado proletário não precisa de pensadores, basta-lhe mãos de obra, pessoas reflectidas estorvam. A nomenclatura com uma administração obediente e dócil chega. Pensar além de fazer doer é perigoso para as nomenclaturas.

As notas dadas por PISA ao Ensino Privado superaram de longe as do Ensino Público. Aquele tem de ser mais apoiado pelo Estado para que o povo possa ter a alternativa da escolha. Além de programas aferidos é necessária uma formação de professores mais objectiva.

Muitas medidas de formação de professores não são isentas. Pecam por querer aproveitar, à última hora, os dinheiros da União Europeia disponíveis para formação. Além disso os cursos são muitas vezes dirigidos por um conjunto de formadores seleccionados pela bitola partidária, ao serviço duma filosofia partidária. A maior parte dos professores lá vai suportando ou engolindo ingenuamente as endoutrinações ministeriais, comportando-se bem, na caça aos créditos.

O Ensino em Portugal, a nível administrativo de ministérios, encontra-se nas mãos da esquerda. Como está totalmente centralizado, os distritos não têm qualquer oportunidade de impedir a miséria que de ano para ano se repete nas escolas. O medo e a insegurança indigna são o meio que o centralismo usa na colocação dos professores. Este é um exemplo de como os mercenários de Lisboa tratam Portugal. O pior de tudo é que o povo não nota! Na província parece reinar a lei da sorte ou do destino e em Lisboa a lei da cunha ou do oportunismo.

O povo é província

É urgente a descentralização do ensino para que este passe a ser mais eficiente e justo. É incrível que um país com uma atitude esquerdista de Educação e um governo também esquerdo mas com uma política económica favorecedora das elites capitalistas consiga fazer condizer coisa com coisa. O que lhes vale é a sociedade ser anónima e acreditar nos “segredos dos Deuses”, bastando para estes iluminados um pouco de esperteza e uns rituais de lojas.

O Zeca tinha razão ao dizer: “eles comem tudo e não deixam nada”! O povo só mata o corpo, anda sempre vergado atrás da necessidade, é seara alheia. O 25 de Abril produziu homens catitas, de olhares devassadores, com bocas muito sôfregas de torresmos, sem respeito nem consideração por nada. Assim, governos de cucos briosos ocuparam a governança dum povo para quem o destino reserva, quando muito, o fadário de vaca leiteira.Este povo, de raízes campesinas, continua renitente à espera dos sinais duma madrugada.

Eles, que substituíram os andores da procissão passaram a ser os pimpões da festa, embora omissos ou de ideias encardidas, metem-se à frente e ainda se gabam: “O povo é província!” Povo é terra submersa, a submergir; é leira pisada em que eles têm a prerrogativa de mandar sem acarretar com as consequências, podendo continuar a caminhar na modorra de sempre.

Os mimados do poder narcisista conseguiram o salto para Lisboa. Com eles o sucesso fugiu da terra. Nesta resta apenas a satisfação sempre cativa na preocupação dum fim de mês sem dinheiro. O campo espoliado e profanado ferve duma raiva indefinida. Eles foram, levaram tudo e só deixaram a desgraça.

Lisboa uma Prostituta

Políticos, não chega apostar em carreiras políticas nacionais que desembocam em cargos internacionais. A presença de Portugal no mundo, para não ser enganosa, exige mais de todos!... A nossa presença internacional, reduzida quase exclusivamente a políticos e a emigrantes, reflecte o nosso mal de raiz: muita conversa e saber indiferenciado; uns, em Lisboa, aldeões engravatados, o resto, aldeões trabalhadores. A uns e a outros resta uma chance, redescobrir a aldeia e então em Portugal voltará a haver lugar para a “Casa dos Vinte e Quatro”. Os homens bons, então, honrarão a cidade e o campo!

Para se estar presente na história e na cena internacional não chega a honra de tachos internacionais nem uma Lisboa de cara enfeitada, para inglês ver. O que é preciso é que Portugal e o povo português apareçam e se tornem Nação, e, assim, esta não seja apenas de alguns que, na periferia da história e da Europa, se mostram, de cara luzidia nos palcos internacionais, sem vergonha daquilo que escondem e que exploram. Uns desavergonhados, envergonhados do povo que dizem representarem.

Na época em que Portugal era povo, conseguíamos estar presentes no mundo, com a nossa fé, ciência e trabalho; éramos caravelas, feitas com todos os pinheiros de Portugal, que singravam ao vento da nossa vontade. Desde que os mercenários do poder se apoderaram de Portugal passou o povo a ter de trabalhar para eles ou a ver-se obrigado a emigrar para o estrangeiro à procura de pão e de honra!

É um escândalo o desinteresse pelo ensino e pela aprendizagem. É um abuso a impertinência dos nossos políticos.

Saramago, quando fala da solução União Ibérica, tal como já fizeram outros intelectuais em tempos passados, talvez o faça por desilusão completa e por verificar a verdadeira baixeza crónica em que nos encontramos.

Penso que, mais que em entregar Portugal a Espanha ou às internacionais, o povo tem que ser acordado por uma nova estirpe jovem de povo que conheça um pouco mais da história de Portugal, que não se deixe corromper e passe a trabalhar e a fazer trabalhar. Para isso é preciso fomentar a cultura e um ensino sério. Vai sendo tempo de dizer não a um ensino só preocupado com resultados balofos, a um ensino que premeia o suborno. O nosso Ministério da Educação não tem tido respeito nem por cultura, nem por professores, nem pelo povo; chega-lhes uma mediania que possibilite continuar a fazer do povo seu tapete, um povo que se quer apenas trolha. A falta de formação e o oportunismo facilitam a vida aos actores que fazem do negócio a entropia.

Assim, sendo embora Portugal um grande povo, continua a adiar a sua história!

António Justo